Quarta-feira, 24 Abril

«Lilting» por André Gonçalves

Ao terceiro dia e à terceira longa-metragem em competição do Queer Lisboa, surge um fortíssimo candidato a um dos prémios do palmarés (a qualquer um deles, sinceramente).

Lilting é um filme sobre as dificuldades da comunicação, quer na barreira linguística, quer extra-linguagem – i.e., dentro do próprio seio familiar.

Filmado em pouco mais de duas semanas, sob um orçamento limitado, conta-nos a história de duas pessoas unidas por uma perda. De um lado, temos Junn, uma imigrante sino-cambojiana residente no Reino Unido que sempre se manteve resistente à integração ocidental, não falando sequer inglês, e que acaba de perder o seu único filho; de outro, temos Richard, o amante britânico que perdeu o seu grande amor, e só fala inglês. De modo a conseguir comunicar com a Sra. Junn, Richard recorre aos serviços de uma intérprete, sob o pretexto de também a ajudar a comunicar com um novo romance.

Esta relação a quatro, com o fantasma do filho sempre a assombrar o “par principal” em “flashbacks” constantes, é habilmente explorada pelo argumentista e realizador Hong Khaou ao longo da hora e meia de película, gerando quer gargalhadas audíveis, quer um choro mais silencioso e interno.

Esta é a primeira longa-metragem de Hong e, ao contrário do que acontece muito nesta arte (e do que se assiste muito no circuito festivaleiro), é um filme de estreia que merece totalmente o seu estatuto e pediria até uma maior duração. O sucesso desta obra merece também, como o próprio autor fez questão de salientar na sessão de perguntas e respostas que decorreu no final da sessão, ser repartido pelos senhores atores Ben Whishaw (Estrela Cintilante) e Pei-Pei Cheng (O Tigre e o Dragão), que aqui injetam “gravitas” extra a estas personagens unidas pela tragédia pessoal.

Um pequeno grande filme e um novo nome a reter para o futuro. 

 


André Gonçalves

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