Sábado, 20 Abril

«Me and Earl and the Dying Girl» por Paulo Portugal

Um filme que aparece com o selo do prémio do público de Sundance parece levar uma vantagem aparente. Na verdade, depois de uma vaiada entrada no universo do terror (The Town That Dreaded Sundown), o ano passado, o texano com créditos como assistente de Scorsese e Inarritu, entre outros, foi buscar forças à experiência granjeada na série de televisão Glee para se reencontrar com o público. E foi isso mesmo que sucedeu. O que não retira uma pinga de mérito ao seu trabalho e, sobretudo, ao guião do estreante Jesse Andrews.

Na verdade, é difícil não sermos embalados por esta história inventiva que, na verdade, parece habitada por personagens de Glee, pois tudo transpira arte. Desde o hobby cinéfilo de Greg (Thomas Mann, o miúdo de Projeto X: Fora de Controlo) e do seu amigo Earl (RJ Cyler) a refazerem clássicos em versão camp bricolage, passando pelas deambulações das várias tribos no liceu, até à excentricidade do pai de Greg que se passeia em robe de chambre e a cozinhar petiscos bizarros (Nick Offerman) ou ainda dos conselhos do musculado professor-tutor McCarthy (Jon Bernthal). Só que Greg foi cercado pela mãe para fazer companhia a Rachel (Olivia Cooke), a quem fora diagnosticada leucemia.

É claro que aqui convém não nos recordarmos do infeliz e sobrevalorizado A Culpa é das Estrelas, a navegar no mesmo tema, acreditando que Rejon não quis aproveitar essa boleia. Apesar do filme estar cheio de um tremendo otimismo, certamente para que possamos lidar com a proximidade da tragédia com um sorriso nos lábios. O problema é que depois de nos passar o efeito inebriante percebemos como é um filme desenhado para lançar esse perfume. Enquanto lá estamos, partilhamos da sedução, mas quando mais pensamos mais sentimos a colagem artificial do universo televisivo. A verdade é que todo esse “patchworck” plástico e artístico funciona. Até porque é a mais respeitada crítica internacional quem o diz… 


Paulo Portugal 

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