Sábado, 20 Abril

«Pressure» (Pressão) por André Gonçalves

No espaço, ninguém te consegue ouvir gritar“, dizia a famosa frase de promoção a Alien. Nas profundezas do oceano, onde ocorre a ação deste Pressure, também não.

Não quis com isto iludir o leitor a pensar que temos aqui um filme de monstros extraterrestres à caça por motivos para nós desconhecidos. Não, a ameaça de Pressure é puramente terrena (espero com esta informação não estar também a “estragar” mais o filme). Uma tempestade (natural) faz com que os quatro tripulantes de um “sino de mergulho” se separem do seu submarino, e se vejam numa luta pela sobrevivência. Aqui sim, existe um paralelo na intenção do realizador em colar-se ao drama claustrofóbico de Alien. Ou poderíamos pensar mais no drama de sobrevivência face a um acidente “natural” no mais recente Gravidade.

Claro que em qualquer dos casos, perde a equipa do filme e o espectador com tais expectativas. De qualquer das maneiras, perante uma premissa tão ambiciosa, também seria de esperar uma execução igualmente ambiciosa e criativa. Pressure tem competência técnica suficiente, diga-se de passagem – e se nunca deslumbra por aí além, nunca embaraça os envolvidos.

Falta-lhe, para além do deslumbre, a gravidade emocional de um Gravidade – a capacidade de transformação de esboços de personagens em figuras que consigamos investir emocionalmente. Aqui, temos quatro “arquétipos”, se podemos chamar isso, facilmente distinguíveis, mas que não passam de papéis de cartão para atores que mereciam certamente um desafio maior. É também fácil de apostar quem vai ao fundo. Uma ou outra sequência lá mais para o final ameaça ainda deslumbrar (envolvendo “entidades locais”), mas por essa altura, a paciência do espectador pode já atingir níveis inversos ao nível de oxigénio disponível para os personagens… Um desperdício de recursos num filme facilmente esquecível que devia precisamente valorizar a magnificiência da vida humana em toda a sua fragilidade, mas que nos põe a olhar para o relógio com a mesma frequência com que mostra o nível de oxigénio restante.

O melhor: A competência técnica.
O pior: a ineptidão em fazer algo remotamente diferente e que desperte emoções básicas, com uma localização ambiciosa que ainda não foi explorada à exaustão. (embora com um expoente fácil em O Abismo, já com 26 anos de existência!)


André Gonçalves

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