Sexta-feira, 26 Abril

«Ant-Man» (Homem-Formiga) por Paulo Portugal

O Aranha que se cuide, pois a Formiga está em grande. E afirma Paul Rudd como o super-herói que mais gostamos de… gostar!

É que Homem-Formiga não é apenas mais um blockbuster destinado a animar o verão. Tratado com todo o carinho há quase uma década de gestação, esta criação inspirada nos comics de Stan Lee, Larry Lieber e Jack Kirby vem dotada de alma suficiente para se afirmar por si. E, diga-se, que dar corpo e alma a um super-herói cujo super-poder é reduzir-se ao tamanho de um inseto reclama a dose certa de uma história que não o subestime diante da excelsa galeria e titãs da companhia. Mas que também não o obrigue a pôr-se em bicos de pés. Sobretudo quando os ecos de Vingadores: A Era de Ultron ainda mal se dissiparam.

Uma vez mais temos São Francisco como cenário, mas não temam pois não teremos aquelas vertiginosos planos picados (ou contra picados!) na ponte. Nem sequer a veremos destruída como tem sido regular nos últimos tempos. Pois bem, esses são também os prazeres de poder animar e afirmar um super-herói minúsculo. Sendo que o mais importante teria de estar sempre na semente narrativa.

Ora, é aí que entrou em cena o britânico Edgar Wright, o homem por detrás da trilogia delirante de Shaun of the Dead, Hot Fuzz e The World’s End, quase sempre de parceria com Simon Pegg. Só que aqui também o dedinho de Rudd, seguramente a polir alguns diálogos ao ator tão calhado ao humor vernacular de Judd Apatow e cúmplice no ‘crime’ de Seth Rogen. Este reparo tem de ser feito, mesmo que Wright tenha sido substituído pelo ‘yes-man’ Peyton Reed (nem por acaso, o seu filme Yes!, com Jim Carrey, que decide dizer sempre ‘sim'”!). Adiante. Até porque mesmo sem Wright percebe-se que o seu ADN está bem presente.

Depois de muitas cabeçadas na vida ao abrigo da sua habilidade em se infiltrar em casa alheia, Scott Lang (Rudd) é contratado pelo cientista Hank Pym (Michael Douglas) para concretizar a experiência de usar um fato que fará o seu usuário mudar radicalmente de tamanho. Naturalmente, este feito será seguido de perto por um indivíduo com ar de vilão – no caso, Corey Stoll, no papel do invejoso Darren Cross, com intentos de ‘encolher’ alguém que caiba no seu fato de Jaqueta Amarela. Isto apesar de alguns dos seus piores inimigos serem mesmo os… aspiradores. Entretanto, Lang receberá a devida atenção de Hope, a filha de Pym (a bonequinha Evangeline Lilly) que também o ensina a usar as mãos e os pés em combate. Ah, e temos ainda Michael Peña a patrocinar alguns dos melhores gags do filme.

O combate será à altura do que a Marvel nos habituou. Tal como os efeitos especiais. Se bem que aqui com as formigas a agigantarem-se num inesperado e conseguido efeito visual 3D. Claro que o Formiga pode ser pequeno em tamanho, mas neste caso também ‘size does not matter ‘. Nem estatuto. É vê-lo a assaltar o quartel-general dos Vingadores (perdoe-se o spoiler!).

Esqueçam então os gloriosos efeitos visuais que enchem o olho mas esvaziam a alma. É que neste caso, são mesmo os pequenos prazeres que mais contam. E, claro, uma história com diálogos vibrantes.

Homem-Formiga pode ser apenas o mais recente super-herói da Marvel e ser iluminado pelos projetores do cinema. Mas, a bem da verdade, supera bem algum do entretenimento cada vez mais insonso em que parece embrenhar-se o colega Aranha. Depois da muito agradável surpresa que foi Os Guardiões da Galáxia, saudamos com gosto Homem-Formiga. Esperamos apenas que esse conceito possa ser aplicado a alguns dos exemplos da longa lista de projetos que a Marvel tem agendado até 2019.

O melhor: A narrativa que nos entretém desde o início ao final.
O pior: A pena de não vermos Edgar Wright no crédito da realização


Paulo Portugal

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