Sexta-feira, 19 Abril

«Magic Mike XXL» por André Gonçalves

Já com Steven Soderbergh em modo “realizador-fantasma” – entregando aqui ao seu assistente de realização habitual Gregory Jacobs o cargo da direção, e ficando Soderbergh “apenas” com as ocupações de diretor de fotografia, editor e produtor – , Magic Mike XXL é também um pouco uma sequela-fantasma do seu progenitor, ainda um dos filmes mais interessantes do seu ano, e não propriamente (ou não só) pelo “six pack” de Channing Tatum e companhia.

A premissa é muito simples, para não dizer simplista: um último espectáculo numa conferência de “strippers” em Myrtle Beach faz Mike voltar ao varão, que aqui se junta à equipa que conhecemos no primeiro filme. Notoriamente ausentes estão Dallas (Matthew McConaughey) e The Kid (Alex Pettyfer). De resto, a fórmula do anterior mantém-se, com gás nos momentos de dança e sedução, mais notas de um dólar a circular, mas sem mais trunfos na manga no campo dramático que não impliquem uma quase repetição de eventos do primeiro filme – a saber, o “flirt” entre Mike e uma nova rapariga “progressiva”.

Mas também é certo que tudo aqui é bem feito dentro dos propósitos iniciais, e também dentro das nossas próprias expetativas já niveladas com o que poderíamos esperar de uma sequela. Magic Mike XXL sabe o que o público-alvo (i.e., apreciadores de corpos masculinos “bombados” no geral) quer e vai presenteando aqui e ali com “T&A” masculino – vá, muitas maminhas e um rabiosque ainda na primeira bobine de filme, bem resumido. Pena que, em primeiro lugar, hajam limitações a nível de classificação de idades que impeçam que o filme vá mais longe a nível de exibicionismo – se é para não investir tanto na história e no drama, ao menos ousaria em algum sitio, mas obviamente que aí alienaria mais muito do seu potencial público; E aqui havia até um potencial trunfo para o filme pegar – na diferença de géneros na hora de tirar a roupa, numa altura em que temos movimentos “libertem o mamilo” em marcha e quando temos a questão da nudez total masculina ser vista como a pior afronta, pior mesmo que filmar um genocídio.

Não há simplesmente nada aqui que choque, ou que cause surpresa para atirar tanto dinheiro. Ou pior, que provoque conversações para além do superficial (como o primeiro filme fez, helás!). Ainda assim, a festa de 4 de julho é bem bonita e fácil de se assistir, se o espectador souber para o que vai. Pela lavagem de olhos nos números de dança, por resgatar e bem atrizes como Andie MacDowell (que teve o seu grande momento de fama graças ao seminal Sexo, Mentiras e Vídeo de Soderbergh) e Jada Pinkett Smith em papéis tão ou mais sumarentos que os parceiros masculinos, e pelo “savoir faire” ainda assim ao gerar uma sensação de puro entretenimento. Se fugaz, há ainda aqui magia suficiente para recomendar esta sequela. Mas tudo isto podia ser ainda melhor, como aliás já foi há três anos atrás…

O melhor: Os números de dança e a lavagem de olhos.
O pior: A ausência de carga dramática.


André Gonçalves

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