Sexta-feira, 19 Abril

«Nós na Rua» por Roni Nunes

O mundo invisível dos artistas da baixa de Lisboa recebe a atenção do realizador Luís Margalhau neste documentário que escolhe um tema pertinente para a sua primeira longa-metragem. O filme começa por contrariar a noção generalizada de que um músico de rua é um “pedinte com um instrumento“, como define um entrevistado, e o que surpreende é a diversidade dos backgrounds, muitas vezes académicos, de alguns deles.

As suas origens são diversas: além dos portugueses, há brasileiros, suíços, espanhóis. As motivações também são variadas – passando por aqueles que trocaram os confortos por um estilo de vida alternativo, outro que, não obstante ter a experiência de centros culturais, gostam de tocar na rua e aqueles que, simplesmente, não conseguiram ser profissionais.
No geral, sobressai-se a noção de uma forma mais direta de vivência da própria arte, onde as reações e os eventuais elogios dos transeuntes configuram uma conexão mais emocional com o público – diferente da relação distante dos espaços tradicionais.

Ao mesmo tempo, esta aprovação é manifesta no acumular das moedas que vão ser a fonte de sobrevivência do artista, não escondendo aqui o facto dos inquiridos considerarem a sua atividade um trabalho e não apenas “diversão”. A ocupação também não é isenta de percalços, como a chuva, um dia de indiferença generalizada e, o pior, a polícia como posto avançado da conhecida loucura por dinheiro dos poderes públicos deste país.

No cômputo geral, Margalhau traz um filme simpático sobre uma realidade pouco conhecida, ainda que na sua abordagem não consiga livrar-se de um esquematismo que limita-se a alternar entrevistas com músicas ou performances.

O melhor: O tema pertinente e a seleção dos entrevistados
O pior: o esquematismo da abordagem


Roni Nunes

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