Quarta-feira, 24 Abril

«Ted 2» por Duarte Mata

Surpreende que a sequela ao sucesso internacional de Seth MacFarlane não seja, de maneira nenhuma, inferior ao original. Mantém-se aquele gosto pelo politicamente incorrecto, quase uma “trademark” do argumentista (porque não, não é na realização francamente televisiva que o americano se destaca, mas já é muito ser um dos três ou quatro escritores verdadeiramente auteurs que Hollywood tem ao seu serviço), feita arma política para parodiar os ideais liberais americanos, bem como os seus tabus (melhor cena: o teatro de comédia improvisada).

Mantém-se também alguns dos melhores gags do primeiro filme, aqui não tanto usados como repetição, mas mais como “piscadela de olho” ao espectador. Surpreende ainda mais a troca gentil de MacFarlane da comédia romântica que havia sido um sucesso pela comédia anárquica, mais perto de alguns sketches de Monty Python através das situações e cameos extraordinários (vede Liam Neeson, impagável) em que coloca a família do urso de peluche, juntamente com a quantidade de referências à cultura pop, desta vez mais abrangente, falando-se tanto de Rocky III e Parque Jurássico como do último Super-Homem ou de Justin Bieber.

Mas, o que falha então? Ted 2 ainda padece de alguns dos maiores problemas das comédias contemporâneas e, já agora, do seu antecessor: o de levar-se demasiado a sério enquanto lição de moral, um pouco como as fábulas que se ouve na infância, numa tentativa de dar maior densidade às personagens. Aqui, essa pedagogia roça a filosofia, no que toca a definição do ser humano, havendo até direito a um par de monólogos sobre o assunto (o filme é sobre Ted que quer processar o Estado por considerá-lo um “bem”, pretendendo mostrar a sua humanidade). Tal resulta numa extensão desnecessária da intriga e na maioria dos momentos mais “mornos”. Ainda assim, o esforço de MacFarlane em fazer uma sequela mais do que decente é notável, principalmente ao pensarmos no western que acabou por ver-se tornado um impasse, o seu anterior Mil e Uma Maneiras de Bater as Botas.

O melhor: Referências ainda mais abundantes, o humor deliciosamente negro.
O pior: Ligeiramente longo e com uma seriedade, por vezes, embaraçante.


Duarte Mata

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