Sexta-feira, 29 Março

«Louder than Bombs» (Ensurdecedor) por Paulo Portugal

O cinema de Joachim Trier é daqueles que se entranham. Assim que debutou em Cannes em 2011 com Oslo, 31 de Agosto, na secção Un Certain Regard, o norueguês nascido na Dinamarca logo deu nas vistas ao confirmar o bom momento de cinema após a ótima receção de Reprise. Não admira portanto que o primo afastado do ‘maldito’ Lars visse abertas as portas de uma produção mais ambiciosa e, sobretudo, a olhar para um mercado muitíssimo mais vasto.

Louder than Bombs, apresentado na competição da Palma de Ouro de Cannes 2015, vinha então carregado dessa expetativa. E nem sequer pelo facto desta produção franco-dinamarquesa se afirmar por um cast de estrelas americanas, mas onde quem verdadeiramente brilha é a francesa Isabelle Huppert.

O problema de Louder than Bombs é que nos sugere sugestões narrativas onde queremos escutar (e ver!) algo mais do que esboços mais ou menos desencontrados de ideias bem mais ambiciosas. Enxergamos o que se passa nas entrelinhas deste guião escrito a meias com o talentoso Eskil Vogt, autor dos títulos anteriores de Trier, ainda que o filme nos sussurre que não quer levantar voo.

Aliás, este parece ser um filme de crises. Mas, ainda que paradoxalmente, essa até seja uma boa notícia. Temos a crise do marido de uma notória fotógrafa de guerra – Isabelle Huppert, claro -, viciada na adrenalina de partilhar com o mundo o momento da tragédia, captado pela habitual calma serena de Gabrile Byrne; a do seu filho adolescente, traumatizado pela perda da mãe num acidente estúpido, no papel da revelação Devin Druid; a do filho adulto, aparentemente perdido após o nascimento do seu primeiro filho, defendido por um regular Jesse Eisenberg; e até a do colega da fotografa (David Strathairn) prestes a revelar um artigo jornalístico sobre a colega fotógrafa, mas também a sua paixão. E temos até a própria Huppert a provar uma vez mais a sua disponibilidade para marcar um filme.

O problema de Louder than Bombs é esse. Não as crises, mas as demasiadas ideias (boas) no filme, mas que não parecem importar-se com o desenlace do filme. Numa das mais bem conseguidas, o pai vai ao extremo para se encontrar com o filho adolescente fechado, ao assumir um avatar no jogo em que dedica horas sem fim. Um pedaço com imensa força narrativa que acabará por não fazer a diferença. Tal como o intrigante, e quase romântico, encontro em que Eisenberg encontra uma ex-namorada (a bela Rachel Brosnahan, que vimos em House of Cards) na maternidade após ver o seu filho acabado de nascer. Mais uma cena teclada com o dedo do argumentista, mas sem um reforço posterior. Mas há mais: o romance nada credível de Byrne com Amy Adams, incumbida da tarefa ingrata de viver essa duplicidade. Bem melhor será a relação incomoda dos dois irmãos distantes que acabam por encontrar um nível de entendimento no melhor momento do filme.

O que dizer então de um filme com um título tão pouco discreto como “mais forte que uma bomba”? Que tem diversos momentos arrebatadores. Sim, mas o filme está longe de ser uma bomba.

O melhor: Todos os momentos em que se nota a mão do argumentista.
O pior: Quando se percebe que esses momentos não fazem o filme que deveria ser.


Paulo Portugal

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