Terça-feira, 16 Abril

«Mon Roi» (Meu Rei) por Hugo Gomes

Maïwenn é uma das realizadoras mais apreciadas em França e é normal que num Festival que tenta promover o papel das mulheres atrás da câmaras, deixar de lado um filme seu poderia ser considerado a mais pura das hipocrisias. Mon Roi, o seu novo filme depois do envolvente e realista Polisse, é um dramalhão que esboça o permanente abuso psicológico num relacionamento amoroso, tendo Vincent Cassel como o “meu rei” e Emmanuelle Bercot, colaboradora habitual de Maiween, como sua servente.

Porém, antes de embarcamos num filme-ativista que salienta a fragilidade das mulheres em grande parte dos relacionamentos abusivos, devemos louvar o facto de Mon Roi não vergar por esse estatuto de vítima. Mesmo que Cassel se comporte como um “sacana”, e consega levar todas as suas decisões avante neste comproisso amoroso, o filme fomenta as culpas na sua protagonista feminina, não somente no facto de expô-la como uma mártir sem reação, mas também em criar na personagem Cassel uma espécie de servidão ao seu amor compulsivo.

Maiween engendra um filme ambíguo que poderá levar a várias leituras quanto ao comportamento das suas personagens e ações, algo apenas possível devido aos desempenhos do par protagonista, inclusive um desempenho livre onde se sentem os improvisos de Vincent Cassel.

Infelizmente este retrato é demasiado extenso na sua esquematização. A fraqueza das personagens secundárias e das “incontornáveis” referências à discriminação e confronto entre classes no território francês, são ingredientes que desmotivam o próprio ritmo da narrativa, e, para ser sincero, certos aspetos no comportamento do “casal maravilha” têm tendência em tornarem-se demasiado inadmissíveis.

Maïwenn poderia ter construído um grande filme, mas o resultado está bastante longe da profunda análise dos vínculos amorosos que se esperava. Ficamos pelos atores e pelas intenções.

O melhor – Vincent Cassel e a “faca de dois gumes” de Maiween
O pior – Poderia ir mais longe


Hugo Gomes

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