Justin Kurzel (Snowtown) acaba por nada acrescentar à tão emblemática peça de William Shakespeare, Macbeth, para além de um tratamento visual mais apelativo e gráfico, infelizmente nada que surpreenda visto que vivemos numa época depois do êxito das adaptações de 300, de Frank Miller, e da Guerra dos Tronos, de George R.R. Martin.

Assim sendo, o que vemos é mais do mesmo, seguindo a mesma linha das mais variadas conversões da obra do famoso dramaturgo inglês para o grande ecrã, ou seja, preserva-se os diálogos proclamados de forma poética, pomposa e airosa, dignos do palco teatral, incorporando-os com uma linguagem cinematográfica.

São os híbridos que invocam uma essência de estranheza, efeito também transmitido pela sua falta de liberdade fílmica. Vejamos o exemplo de Corolianus, a primeira obra dirigida por Ralph Fiennes, que pega num dos trabalhos mais politizados de Shakespeare e o leva para tempos modernos, conservando integralmente os diálogos. A ideia é boa, os textos do dramaturgo eram sofisticados para a sua época (como o são agora), mas enquanto não houver liberdade no seu registo, na sua ação e nas suas personagens, dificilmente um filme consegue sair das suas limitações de “teatro filmado”.

Macbeth, de Kurzel, sofre desses mesmos sintomas, mesmo que o estilo visual torne a experiência mais apelativa para as audiências mais jovens (um bom indicio para estes descobrirem, ou redescobrirem, a peça) e os atores sejam ricos nas suas performances.

Michael Fassbender transforma-se assim no atormentado homem regido pela profecia e sede de poder. A personagem homónima é descrita de forma bruta, esquizofrénica e é erguida com robustez por parte do ator. Por sua vez, Marion Cottilard consegue emanar magistralmente a culpa da Lady MacBeth, e Sean Harris tem carisma suficiente para dar e vender com o seu Macduff. Mas isso tudo é quase inútil, sabendo que o filme nunca consegue respirar devidamente.

 

Pontuação Geral
Hugo Gomes
macbeth-por-hugo-gomesO melhor – os atores e o visual / O pior – os trabalhos fieis às peças de Shakespeare já são o prato do dia, porém, são deveras limitados enquanto produtos de cinema (esperemos que surja um que fuja à regra)