“Intellectuals have no taste”

É verdade que todos esperavam que Paolo Sorrentino fosse reciclar o estilo vencedor de “La Grande Bellezza” num filme próximo, e ei-lo: “Youth” (“La giovinezza”), o seu olhar luxurioso à segunda juventude de cada um, onde Michael Caine e o “ressuscitado” Harvey Keitel compõem um par de amigos de longa data (a caminhos dos 80) que passam férias num requintado hotel situado nos Alpes. Entre spas e saunas, “Youth” converte-se gradualmente numa poesia industrializada sobre a velhice e a confrontação com o passado, num registo que por si já parece “velho” no grande ecrã.

Mas Sorrentino revela-se ainda, aquilo que já fora considerado na obra anterior: um VJ, apostando num filme sob um visual estilizado e de uma riqueza acolhedora. Se o realizador filma bonito, isso já se sabia, mas em “Youth” revela-se mais livre, confiante e sim … egocêntrico. Porém, nem tudo o que vemos é realmente dispensável. É fácil emocionar com “Youth” (até certo momento uma das personagens expressa o quão subvalorizado estão os sentimentos) com toda aquela revisão dos nossos medos íntimos desconhecidos, mas sobretudo devemos louvar o facto do nosso realizador, que é também o argumentista, acertar com as suas cartadas nos diálogos, surgindo frases deliciosas, alguns dos quais incutindo uma filosofia popularmente identificável, talvez mesmo concentrando aí a única sinceridade da obra.

Existe ainda outra aposta vencedora neste novo filme de Sorrentino, o seu humor digno de “buddy movie“, como que – de certa maneira – Caine e Keytel fossem reencarnações antípodas de Jack Lemmon e Walter Matthau. A química transmitida por ambos pode ser demasiado rígida para os parâmetros estilísticos do filme, mas mesmo assim eles respondem com exatidão aos requisitos. Salienta-se ainda as participações de Paul Dano, que demonstra novamente o seu talento de difícil reconhecimento, sendo o responsável por uma das sequências que revela o quanto “infantil” podem-se também tornar essas filosofias de Sorrentino, que aqui reflete sobre os horrores da vida na personificação de uma óbvia personagem histórica.

Por outro lado, eis que também surge Jane Fonda (no melhor papel em anos), que encoraja, ao lado de Keitel, a inserção de um dos diálogos mais acutilantes e frontais deste “Youth”, um debate irónico sobre um tema bem atual , a proclamada morte do cinema e a “vingança” da televisão no futuro. Sim, há muito por onde gostar nesta obra de fragrâncias vaidosas, nem que seja para matar as saudades de uma certa “beleza”. Desde o desempenho de Michael Caine, ao bom regresso de Harvey Keitel, passando pelo hedonismo, até chegar ao glorioso momento final, acompanhado por uma música que assombra a narrativa: “The Simple Songs“.

Youth” pode não ser a obra que se esperava de Sorrentino depois de “La Grande Bellezza”, e até seja de (mais) fácil apelação, mas para todos os efeitos é pura e sedutora viagem ao ego de um realizador contra o Mundo.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
youth-por-hugo-gomesSentimos que Paolo Sorrentino deu muito mais com A Grande Beleza, ao qual este filme dificilmente consegue fugir das comparações