Existem claros problemas em Dheepan, o mais recente filme de Jacques Audiard (Um Profeta, Ferrugem e Osso), principalmente na sua estrutura narrativa e nas constantes mensagens que poderão transmitir. É que a história de sobrevivência de uma família fictícia vinda do Sri Lanka para França, a fim de escapar à desolação da guerra, é regida pelos mais variados lugares-comuns, os quais tão bem integrariam uma produção de Hollywood.

É verdade que Jacques Audiard é um cineasta competente em induzir um dramatismo às suas personagens, e conseguiu fazer com as suas anteriores obras uma espécie de meio-termo, ou seja, não muito dado ao lado autoral e sendo acessível sem com isso requisitar o bacoco do mainstream. Mas em Dheepan, Audiard mete a “pata na poça”. Aquilo que aparentaria ser cinema de inserção social depressa se converte num drama sobre a criação de laços familiares e afetuosos quando no preciso momento em que os três membros deste “embuste familiar” começam por fim a interagir e a definir as relações afetivas.

Até aqui todos os clichés do retrato social de um bairro suburbano algures na França são invocados sob um jeito pastiche. Estes propósitos depressa convertem-se em episódicos tomos de traumas e de construção inapta com a realidade do Sri Lanka, mas isso é desprezado quando o climax começa a “bater à porta” e Dheepan (filme e personagem) revela a sua face mais fácil e de certa forma “pirosa”, transformando-se num arquétipo de Rambo. Pois é, um drama que se adivinha próximo do cinema verité, abordando temas de imigração e de reinserção social, depressa vira um filme de ação filmado em handycam. Nem Paul Greengrass conseguia melhor (evidente ironia, para quem não tenha percebido).

Mas o pior não está ai, o autêntico degredo é no seu “happy ending”, uma hipocrisia que esboça ignorância em prol de uma mensagem de militância. Nesse sentido, as boas intenções são ultrapassadas pelo valor da imagem. O seu constante simbolismo emocional instiga um debate sobre a imigração na sociedade francesa, mas com uma miopia constante.

É que afinal, segundo Jacques Audiard, a França é o pior país para um estrangeiro se reintegrar e até mesmo o mais violento e desumano. Uma mensagem que poderia soar a crítica, não fosse o facto de este cair em comparações evidentes e descabidas.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
dheepan-por-hugo-gomesA força do filme é minimizada perante a sua mensagem política