Quinta-feira, 25 Abril

«Mia Madre» por Hugo Gomes

Com Mia Madre, uma coisa podemos ter a certeza: Nanni Moretti perdeu o seu toque e mesmo quando invoca o seu estilo sentimo-nos defraudados com o seu (não confirmado) cansaço.

Nesta sua nova obra, somos apresentados a Margherita (Margherita Buy), uma realizadora cuja sua vida ultimamente tem levado violentos golpes. A sua mãe sofre com uma doença terminal, a morte é eminente, mas Margherita prefere não aceitar isso. Para além do mais, a sua filha adolescente está demasiado confusa e perdida, e o filme, que se encontra a rodar, está a tornar-se num autêntico caos, um cenário que piora ainda mais com a vinda de Barry (John Turturro), uma estrela de Hollywood egocêntrica, dotada de muita conversa e pouca ação.

Nanni Moretti transformou Mia Madre num objeto pessoal, personificando-se numa mulher que parece ter perdido o controlo na sua vida. Margherita interpreta um alter-ego do próprio Moretti e a sua anterior “capa” Michele Apicella, mas o drama incutido pelo cineasta parece sufocar a personagem, mais do que as tramas nas quais ela está envolvida. Muitas delas soam mesmo a evocações a um dos êxitos passados do autor, O Quarto do Filho, no qual aborda a ausência como um estado de espirito atormentado.

Demasiado anorético para a sua veia existencialista, Mia Madre parece apenas ter encontrado a sua força no desempenho de John Turturro, um “comic relief” que se transforma num must. O ator desencadeia um dos momentos musicais mais deliciosos dos últimos tempos, muito devido ao seu carisma, aqui em pleno estado de graça. De resto, tudo é empacotado com as referências de Moretti, que aqui surge também na interpretação como se tratasse do “grilo-consciência” do Pinóquio.

Nisto, Mia Madre vale a visualização por dois motivos únicos: um ator secundário com uma estima igual ou maior que o próprio filme, e a confirmação de que até mesmo um dos realizadores mais frontais de Itália tem o seu “quê” de bloqueio criativo.

O melhor – John Turturro, absolutamente
O pior – Nanni Moretti recorre aos seus “velhos truques”, mas evidencia cansaço, muito cansaço.


Hugo Gomes

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