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«One Floor Below» por Hugo Gomes

A Nova Vaga Romena é dotada pelo realismo rígido e de algumas melancolias. Radu Muntean (Terça, Depois do Natal) consegue através dessa característica do seu cinema construir um anti-thriller, uma obra alicerçada por dilemas de culpa e insuspeita.

Em One Floor Below (Un Etaj Mai Jos) seguimos Patrascu (Teodor Corban), um homem comum, pai de família, acomodado com a sua vida, trabalho e amigos, cuja curiosidade o leva a territórios psicologicamente perturbados. Certo dia, Patrascu ouve uma discussão da vizinha do andar de baixo e, para poder acompanhar os pormenores dessa valente discussão entre uma jovem rapariga e o seu amante, também ele um vizinho, é apanhado a escutar por detrás da porta. No dia seguinte, a mesma vizinha aparece morta, a polícia investiga e o suicídio é a causa mais provável. Porém, para Patrascu o evento é um claro homicídio, e a suspeita do eventual culpado surge na sua mente. Apesar de decidido a continuar com a sua vida, Patrascu vê-se perseguido pelo alegado homicida.

One Floor Below contrai um sentimento anti-climax em toda a sua execução, a começar por uma câmara que segue fielmente o seu protagonista, onde esse efeito (que funciona como uma rêmora num tubarão) não limita o olhar do espectador quanto ao desenrolar da intriga, mas finca sobretudo o realismo das suas sequências. O resultado é feliz nessa transmissão de credibilidade.

O protagonista, Teodor Corban, demonstra firmeza no seu desempenho, o esboço de um homem comum, transparente quanto às suas emoções e dimensão psicológica, funcionando como uma personagem que não nos importamos de seguir nesta jornada ao andar de baixo. Quanto à sua aventura propriamente dita, Radu Muntean tece uma intriga em constante confronto com os seus dilemas, quase referenciando o cinema de Hitchcock sob o vínculo da culpa.

Mas a questão da autodestruição derivada por um silencio criminoso revela as suas fraquezas enquanto produto independente. One Floor Below possui na sua carta alguns valores de ouro quanto à entrega do enredo, a dissipação do climax como uma opção direcionada ao debate fora do filme e a sua ambiguidade afiada. Contudo, o filme está demasiado preso ao seu clubismo estilístico, com um realismo exaustivamente reforçado pela sua própria frigidez.
Ainda assim, não deixa de ser uma curiosa experiência.

O melhor – Nunca aposta num climax, o qual traz resultados mais entusiasmantes do que o normal
O pior – O registo da Nova Vaga Romena parece estar condicionada a um estilo formalizado


Hugo Gomes