Quarta-feira, 24 Abril

«Our Little Sister» (A Nossa Irmã Mais Nova) por Hugo Gomes

Mais uma prova de que Hirokazu Koreeda é o herdeiro direto de Yasujiro Ozu, mesmo que tente em cada filme afastar-se do estilo formalizado e reconhecido.

Our Little Sister, baseado na manga de Akimi Yoshida que nos remete à história de três irmãs adultas que acolhem a desconhecida pequena meia-irmã, é um poço de delicadeza e sensibilidade que aborda as complexidades das relações afetuosas de um jeito desarmante na sua simplicidade.

Tal como Ozu, o toque emocional é poderoso, conservando a força do último ato e preservando os valores familiares que tendem em ser invocados exaustivamente. Mas estes aspetos não são as únicas comparações com o mestre de A Viagem de Tóquio, cujo seu legado fez escola no cinema nipónico, proliferando igualmente no resto do Mundo.

Ocasionalmente, Koreeda expõe uma planificação seguindo algumas matrizes de Ozu, com os seus dignos saltos de eixo e a essência cénica, como por exemplo a importância das refeições no decorrer da trama, ou a presença do bar, assim como da cerveja, que conduz aos mais variados diálogos. Portanto, ver um filme de Koreeda é de certa maneira revisitar as memórias do artesão Ozu, embora as saudades pelo mesmo não sejam (felizmente) totalmente consumidas.

Koreeda reserva a sua própria marca, enunciado o que aprendeu e que demonstra saber ao mesmo tempo que constrói personagens ricas, sensibilizando-as a nunca se desvanecerem nos registos formatizados e nos lugares-comuns. A ênfase dramática pode ser um desafio para quem aposta em dramas familiares tensos e fortes, mas em Our Little Sister é o toque fraternal que nos faz amar este relato de amizade, compaixão e redenção, e sobretudo construção de novos laços. Depois, temos o quarteto de atrizes, tão belas como emocionantes, tão humanas como afáveis para com o espectador (destaque para Suzu Hirose).

Dotado de uma poesia visual e de uma narrativa acolhedora, Hirokazu Koreeda tem aqui mais um importante trabalho da sua filmografia. Mas mesmo que belo e terno, é importante que um realizador como este consiga superar as comparações que tem sido alvo e aposte num estilo próprio, visto que no talento em manusear as emoções ele é um sábio!


Hugo Gomes

Notícias