Trinta anos passaram desde a Cúpula do Trovão e ainda hoje a existência de um quarto Mad Max nos cinemas continua a ser levada com uma certa incredibilidade. Mas a verdade é que o nosso anti-herói presente num mundo pós-apocalíptico em que a Humanidade parece estar reduzida a pequenas e violentas tribos, está mais vivo que nunca, e a relembrar os seus tempos áureos de O Guerreiro da Estrada (1981) – o que parece mentira, visto que nem Mel Gibson nem Tina Turner encontram-se presentes nesta nova aventura.

Aliás, a icónica e homónima personagem tem uma nova cara – Tom Hardy (O Cavaleiro das Trevas Renasce) – e uma incursão mais filosófica do que o normal, mas entenda-se que tudo isso é sol de pouca dura, porque o real objetivo deste Fury Road (A Estrada da Fúria) é simplesmente entregar-se a um entretenimento voraz repleto de ápices frenéticos de ação (semi) artesanal.

30 anos foram muito tempo para a saúde de Mad Max. O mundo que o acolhera em três bem-sucedidos filmes tornou-se drasticamente diferente. O cinema dito de entretenimento evoluiu para formas mais refletidas e milimetricamente pensadas para agradar a gregos e troianos. Assim, para este novo projeto era necessário o lema de Darwin: evoluir ou morrer. Porém, para Darwin, Mad Max apenas responde com a necessidade de sobrevivência. Como resultado temos uma exaustiva produção ao nível dos maiores espectáculos hollywoodescos e ao mesmo tempo um júbilo cinematográfico à moda antiga, com um requisito megalómano de stunts e todo um universo demasiado sujo para uma indústria cinematográfica deveras limpa.

Depois temos a Mulher. Mais do que mero ativismo politico ou social, Charlize Theron partilha o protagonismo com Hardy, e, para ser sincero, de forma desigual, já que a atriz rouba qualquer cena que surja com a sua trágica “mulher de armas”, Furiosa. Tal como sucedera em Branca de Neve e o Caçador, Theron prova mais uma vez que nenhum papel é pequeno. Neste caso, as comparações que tem suscitado com a Ellen Ripley de Sigourney Weaver, esse símbolo da mulher de ação no Cinema, não são tão descabidas assim, visto que a sua personagem é uma emancipada, subjugada aos códigos do feminismo militante e intercalada com uma extrema necessidade de apelar ao lado mais emocional. George Miller conseguiu aqui, subtilmente, um hino ao retorno da ação no feminino através de uma manobra bem perigosa, mas com resultados felizes. Mad Max não é o único herói acidental aqui, desta vez é uma mulher que está no volante.

Mas não nos fiquemos por questões de igualdades, nem de profundidade por vezes imperativas nos blockbusters dos dias de hoje. Fury Road é, sim, uma montanha russa, imparável, pomposa, mas sempre fiel aos códigos de série B. É entretenimento para massas, eficazmente direcionado a todos os que cresceram com o herói de Gibson (em jeito de homenagem, o vilão deste capitulo é interpretado por Hugh Keay-Byrne) ou pela ausência de limites na ação. É uma reciclagem das grandes perseguições, enraizadas na narrativa com uma explosiva força motora.

Se formos descrever este Mad Max numa simplicidade quase massacrante, poderemos insinuar, e com convição, que todo o filme é uma ida e volta, um autêntico “freak show” que não irá deixar defraudados quem tem como único propósito a diversão. Esteticamente é um novo Mad Max, porém, o modelo continua a ser o antigo.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
Jorge Pereira
André Gonçalves
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