Sábado, 20 Abril

«A Little Chaos» (Nos Jardins do Rei) por Duarte Mata

Chatíssimo este Nos Jardins do Rei, segundo trabalho na realização de Alan Rickman, que vem demonstrar que o ator britânico é mais interessante à frente das câmaras do que por trás delas. Sem qualquer estilo e limitando-se a seguir os protocolos mais mundanos da indústria, este relato da paixão de dois arquitetos responsáveis pelos jardins do palácio de Versalhes recai uniformemente no cliché e no filme romântico vulgar.

Pouco ou nada tem a ver com A Tomada de Poder por Louis XIV de Rossellini (e não deixa de ser irónico que essa obra feita para televisão contenha mais cinema que este paquiderme televisivo). Aí a personagem homónima tinha um desejo febril, quase obsessivo, pela pujança, pela magnificência, pela perfeição, ao invés do rei galã de Rickman com pouca densidade e com manias das grandezas que nunca são claras ao espectador. Como se não bastasse, há ainda espaço para um flashback que sublinha a traço grosso o que já adivinhávamos da personagem de Kate Winslet e muito paleio no argumento que não leva a lado nenhum.

Claro que há Matthias Schoenaerts com a sua melancolia discreta a tentar dar alguma graciosidade, mas nem ele se salva quando vê a sua personagem ao serviço de adereço em prol das regras do maniqueísmo. Sim, porque Nos Jardins do Rei não é o caos do título original. É, isso sim, de uma ordem autoritária e redundante que o cinema está farto.

E depois há aquela sequência final, autêntica punhalada no cinéfilo, em que um movimento de grua afastando-se do jardim recém-construído se transforma numa imagem feita de gráficos de computador de uma Versalhes mal executada. Se a câmara veio a ser substituída pelo CGI, vamos ali e já não voltamos.

O melhor: Matthias Schoenaerts na primeira parte do filme.
O pior: A banalidade do projeto.


Duarte Mata

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