Quinta-feira, 25 Abril

«Michael Kohlhaas» (A Vingança de Michael Kohlhaas) por Duarte Mata

Recorde-se a eterna frase de Shakespeare “A horse, a horse! My kingdom for a horse” para se falar de A Vingança de Michael Kohlhaas na medida em que o protagonista leva a seu cargo os traços anti-heróicos e conspiradores de Ricardo III, mas, mais do que isso, pela forma como as paixões humanas movem a civilização e os seus conflitos, neste drama de uma rebelião contra o reino levada pela personagem homónima, depois de não ser feita justiça após o saque e maus tratos dos seus cavalos.

O problema não é que Heinrich von Kleist (o autor do livro em qual o filme se baseia) não seja como o celebrado dramaturgo inglês, mas sim que o realizador Arnaud des Pallières não se apegue ao material com a confiança e inteligência que merecia. O resultado é um enredo de uma vendeta banal contada em silêncios moribundos que desencadeiam numa violência estilizada à procura de um sentido estético (fosse Drive passado no século XVI e não estaria muito longe disto). Até aqui poder-se-ia perdoar, é algo totalmente caracterizada pelo gosto individual de cada um. Mas depois encrava-se uma banda sonora pouco carismática e um zumbido de moscas incomodativo para criar a falsa ilusão de que estamos num ambiente nefasto e cadavérico sucessivas vezes em que a cena necessita de desenvolvimento dramático.

Segue-se Mads Mikkelsen pachorrento, com a mesma expressão séria, quase hagiográfica (vede o cartaz!) que só é quebrada no final, terrivelmente a apelar por lágrimas e com um simbolismo que só nos remete para o pastelão de Mel Gibson, Braveheart. Salva-se uma certa graça em ver Bruno Ganz a tentar disfarçar o sotaque alemão e uma enorme admiração por Denis Lavant (autêntico buraco negro a absorver quase tudo o que até ali houve de mal em apenas cinco minutos de cena) em monólogos teológicos e teatrais sobre o poder e a justiça. Fosse este último aspeto mais fortalecido e não estaríamos longe de um cinema menos conformista com o que a crítica francesa em tempos definiu como o “cinéma de papa“. Que é, infelizmente, o que Michael Kohlhaas é.

O melhor: Denis Lavant e os seus cinco minutos de fama.
O pior: O conformismo e os traços hagiográficos que a obra acarreta.


Duarte Mata

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