Baseado numa obra literária do autor israelita Uri Orlev, que por sua vez se baseia em factos reais, em Corre, Rapaz, Corre (Lauf junge lauf) acompanhamos “Jurek” Srulik, um rapaz polaco de oito anos que tenta sobreviver aos horrores da Segunda Grande Guerra e à fervorosa caça aos judeus. A maior virtude da relevância da floresta para com os judeus polacos (ficamos tão mal servidos com Resistentes, de Edward Zwick) é o afastamento dos lugares-comuns que os campos de concentração se converteram neste tipo de produções, porque de resto temos todo os outros.

Aliás, existe nesta longa-metragem de Pepe Danquart (realizador de Schwarzfahrer, o vencedor do Óscar de Melhor Curta-Metragem em 1993) um certo sabor de “best hits” dos elementos de sobrevivência na Segunda Guerra Mundial. Isso é acentuado por uma narrativa episódica, demasiado esquemática para envolver-se numa ênfase dramática grandiloquente, como se pode verificar a certa altura em que um cão, que acompanhava a jornada do protagonista, é morto a tiro. Nessa determinada sequência, o rapaz chora desalmadamente, mas o que nós sentimos nesse exato momento é o somente contacto com imagens e não com o conteúdo.

É verdadeiramente triste ver um drama deste género que não consegue acentuar mais do que um retrato de telefilme, auferindo uma sensação de desperdício perante uma fotografia ímpar de Daniel Gottschalk, uma banda sonora cativante da autoria de Stéphane Moucha e até mesmo interpretações convincentes para o efeito (destaque para os gémeos Andrzej e Kamil Tkacz, que interpretam Jurek). O que verdadeiramente sentimos é bons valores de produção tecidos por um frágil fio entre eles, arrastando-se um aos outros de um jeito quase automático.

Corre, Rapaz, Corre é como o seu protagonista, um aventureiro irreverente, mas condenado à sua impotência, onde a única solução é mesmo “correr”. Uma grandiosa história transformada num filme bem concretizado, mas estruturalmente ineficaz. Mereciam mais estas memórias.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
lauf-junge-lauf-corre-rapaz-corre-por-hugo-gomesO melhor: os valores de produção, a interpretação dos gémeos Andrzej e Kamil Tkacz. O pior: a estrutura narrativa atenua qualquer vontade emocional ou na exploração das personagens.