Sexta-feira, 29 Março

«Son of a Gun» (Filho do Crime) por Jorge Pereira

A história do aprendiz que supera o mestre certamente é mais antiga que Aristóteles, filosofo grego que um dia disse que «O verdadeiro discípulo é aquele que consegue superar o mestre». Basta ver os primeiros minutos de Filho do Crime para entender que esse será o seu desenlace, até porque a obra que marca a estreia na realização nas longas-metragens de Julius Avery pisa apenas terrenos comuns e já banalizados no cinema, seguindo uma estrutura de jovem que se une a um detido mais experiente, aprende com ele e vai à sua vida.

Claro que há muitos filmes de grande qualidade que seguem fórmulas ou estruturas pré-formatadas, mas que ganham o seu espaço com o enriquecimento das personagens e situações ímpares. Aqui, isso não acontece.

JR (Brenton Thwaites) é um jovem enviado para a prisão por um crime menor (condenação de seis meses). Lá ele torna-se o aprendiz/aliado de Brendan Lynch (Ewan McGregor), o inimigo nº 1 da Austrália e famoso assaltante. Após umas quezílias com um trio de matacões violadores (é a melhor forma de os descrever), Brendan oferece a sua ajuda a JR e este terá que no futuro ajudá-lo a sair a cadeia.

As peças deste xadrez colocam-se como planeado e, quando os larápios já se encontram livres, iniciam diversas atividades ilegais onde várias situações pessoais abanam a estrutura do grupo. Claro que para isso contribui uma mulher (Alicia Vikander) por quem JR se enamora, uma terceira pessoa com suficiente força para abanar a «exclusividade» que Brendan pensava ter.

Embora Filho do Crime tenha genica para em alguns momentos nos entreter, nunca consegue ter um tom distinto para que não passe de mais um filme de golpes com atores em modo automático e uma rotineira reviravolta à mistura, ou não fosse o subgénero heist movie quase obrigado por decreto lei a ter uma.

Ainda assim, Avery demonstra potencial e talvez no futuro consiga acompanhar o ambiente negro que transpira desconfiança por todos os poros e imprevisibilidade que os seus colegas australianos David Michôd, John Hillcoat e Justin Kurzel incutiram nos seus trabalhos. Filho do crime precisava disso, como do pão para a boca.

O Melhor: Avery mostra potencial se for mais acutilante e menos formulaico
O Pior: Previsível na estrutura e final


Jorge Pereira

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