Sexta-feira, 26 Abril

«Annie» por José Raposo

Esta é a terceira versão cinematográfica do musical Annie, uma peça da Broadway dos anos 1970, hoje reconhecida primordialmente pelos temas “Tomorrow” e “It’s The Hard Knock Life“. É um reboot sem qualquer chama, sem grande comparação com as anteriores adaptações de John Houston e de Rob Marshall, já de si rotineiras e filmes de segunda ou terceira linha quando vistos quer à luz da carreira dos respectivos realizadores, quer do próprio musical enquanto género.

O que nos traz, então, de volta à pequena orfã Annie e às suas aspirações por uma vida junto da sua família? Torna-se tarefa complicada encontrar motivos, quando a principal preocupação dos responsáveis pela produção passou por arranjar forma de fazer publicidade a produtos, penando de sequência em sequência até ao estrondo final. A situação ganha contornos particularmente histéricos quando a dada altura numa visita a um cinema, um dos personagens afirma que “product placement” é aquilo que tem preservado a indústria do cinema.

Essa sequência e o desempenho histriónico dos atores (“safa-se” o Jamie Foxx no papel de bilionário do mundo da tecnologia), faz mais pensar em Annie enquanto “spoof” e não exactamente num reboot honesto e sincero. Nada contra estas respigas de franquias mais ou menos conhecidas, feitas com maior ou menor grau de oportunismo, mas quando não se mantém um minímo de dignidade e preocupação em fazer cinema é evidente que os resultados nunca poderão ser os melhores.

Não é o “product placement” que tem preservado a indústria do cinema, mas sim o trabalho de cineastas que apesar do contexto cada vez mais agressivo conseguem colocar a experiência do cinema à frente da experiência do comércio. Que hoje em dia já não haja nenhum “cavaleiro errante” como John Houston com energia suficiente para resgatar estas imagens das garras afiadas das corporações é, pois, um das mais nefastas consequências da subida ao poder de uma nova geração de produtores, mais preocupados com negócio do que com cinema.

O melhor: Jame Foxx
O Pior: O mau gosto que contamina todo o filme.


José Raposo

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