Se Margarida Cardoso não é das cineastas portuguesas mais reconhecidas internacionalmente, nem por isso deixa de ser responsável por uma das produções portuguesas mais destacáveis dos últimos quinze anos: a adaptação homónima do romance de Lídia Jorge, A Costa dos Murmúrios.

Referimos esse filme pois de alguma forma a sua mais recente longa-metragem que acaba de estrear, Yvone Kane, espelha esse seu êxito, com uma protagonista ferida e incompreendida num casamento sentimentalmente dúbio, representada por Beatriz Batarda (ela que, juntamente com Leonor Silveira, é a única musa que o cinema português ainda tem) e um olhar enternecedor sobre África e os filhos da Guerra Colonial (a personagem do título é uma guerreira militante assassinada).

No entanto, o que havia de hipnótico e belo nessa obra, perde-se aqui numa incerteza morosa e desinteressante da exposição da ação. Os planos fixos maravilhosamente enquadrados são substituídos maioritariamente por um uso sonso da steadycam, género “vamos filmar alguém a atravessar a rua, porque sim, porque alguém há-de dizer que isto é cinema“, prejudicados o suficiente por uma dificuldade adicional na direção de atores estrangeiros. Para além disso, como thriller político, sabe a pouco e toda a intriga, revolvendo a busca da verdade sobre o assassinato dessa manifestante, resolve-se com poucos obstáculos e relativa facilidade, mas não deixa de se sentir fastidiosa, mais para o espectador que para as personagens em si.