Sexta-feira, 29 Março

«Inherent Vice» (Vício Intrínseco) por Duarte Mata

Thomas Pynchon não tem fama de ser autor fácil ou comum e acreditamos que Paul Thomas Anderson tenha feito o seu melhor nesta adaptação do romance Vício Intrínseco. Mas um leque de personagens demasiado amplo e uma intriga, senão fastidiosamente aprofundada, ligeiramente confusa, fora uma extensão que se sente pesada acabam por tornar o resultado menos alucinogénico do que poderia ter vindo a ser.

Verdade seja dita que preferimos isto às cientologias e petrolíferas, pois, pela primeira vez, o comportamento esquizofrénico das personagens do cinema deste cineasta parece justificado e não sobre expressivo, neste enredo da busca de um detective hippie pela sua ex-namorada e do desmantelamento acidental de uma rede de narcóticos que o leva a encontros casuais e pitorescos com neo-nazis, saxofonistas toxicodependentes e dentistas pederastas. Sensata foi a escolha de Anderson que, ao invés de procurar a mise-en-scène e ter resultados desfasados como nos trabalhos dos seus últimos anos, fez o correto em optar por torná-la quase transparente. Mais do que isso, o domínio no humor de Anderson está mais medrado e funcionável que o do sonâmbulo Embriagado de Amor (Punch Drunk Love), suposta “comédia” que colocava Adam Sandler num registo pouco confortável e vulgar da sua persona.

No máximo, é um curioso filme noir (todo este revolver em desaparecimentos e estupefacientes é descendente dos mais aclamados trabalhos de Raymond Chandler) em que a melancolia obrigatória se encontra vagamente substituída por um hedonismo moralmente incorreto, auxiliado por uma banda sonora minimamente acertada, se bem que pouco deva aos anos 70 onde a ação decorre. E talvez seja aí que resida a sua graça.

O melhor: O humor.
O pior: A duração do filme e o excesso de personagens.


Duarte Mata 

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