Quinta-feira, 28 Março

«Die Geliebten Schwestern» (As Irmãs Amadas) por Roni Nunes

Um dos maiores ícones literários da Alemanha, o poeta clássico Friedrich Schiller ganha uma biografia parcial baseada na sua relação afetiva com duas irmãs da nobreza turíngia. O triângulo amoroso baseia-se num pacto singular feito entre Caroline von Legenfeld (Hannah Hersprung) e Charlotte von Legenfeld (Henriette Confurius) que prometem partilhar tudo na vida – juramento que não encontrará maiores problemas na hora de incluir a cama e o coração do famoso escritor (vivido por Florian Stetter).

Dado o resultado final pouco entusiasmante deste filme do veterano realizador alemão Dominik Graf, o exercício mental de um eventual interesse por esse estranho relacionamento construído nos subterrâneos de uma sociedade cheia de regras e altamente repressora direciona-se para outras paragens – nomeadamente a tentativa de perceber porque, afinal, essa obra é tão falha.

Uma das responsabilidades, sem dúvida, é do argumento do próprio Graf. Uma vez que a opção é ignorar a obra do artista e filósofo e passar apenas de raspão pelo rico contexto histórico da época (uma leitura trivial e tipicamente pós-moderna da Revolução Francesa), a forma rasa com que constrói os personagens compromete o filme de forma irremediável. Schiller, por exemplo, é um personagem amorfo e sem graça com reações limitadas e interpretado por um ator sem grande carisma. Ainda pior para Charlotte que, inexplicavelmente, desaparece quase por completo a partir de certa altura – deixando à intérprete de Caroline o fardo de carregar o filme nas costas. Apenas ela tem alguma densidade, mas tampouco isso ajuda para que se perceba com clareza muitas das suas razões. Nunca se entende bem as motivações dos personagens e o que fica é a sensação de se assistir a um jogo que se desenvolve num universo paralelo indistinto para o qual apenas Graf parece conhecer os códigos de acesso.

Outra escolha do cineasta é pela clara deserotização de uma história baseada na paixão (típico do cinema germânico fazer isso) que pode ser voluntária ou simplesmente uma consequência da sua inépcia. Ocorre que, se não há sensualidade, há gritos e choros desesperados na tentativa de convencer o espetador de que aquelas pessoas estão apaixonadas. Lampejos de sentimento, nem vê-los.

Uma vez que o foco está ausente tudo se organiza ao sabor dos movimentos gratuitos da câmara, que consegue dar uma fluidez vazia e académica (abusando de zooms artificiais) ao avanço de uma história que nunca se percebe onde quer chegar. Qual é, afinal, o objetivo do filme? Uma vez que ele se estende sem rumo por quase duas horas e meia ninguém quer mais saber – deseja-se apenas que ele acabe.

O melhor: Hannah Hersprung que carrega nas costas o pouco que se salva do filme
O pior: personagens mal construídos e uma história sem rumo 


Roni Nunes

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