Quinta-feira, 28 Março

«Avis de Mistral» (Um Verão na Provença) por Duarte Mata

A primeira cena de Um Verão na Provença com o rosto de uma criança adormecida junto à janela de um comboio, enquanto se ouve The Sound of Silence de Simon & Garfunkel, anuncia o sentimento de inadequação que as personagens deste filme (adolescentes habituados ao comodismo da cidade) sentirão na viagem de visita ao seu avô, no campo, semelhante ao retorno icónico de Dustin Hoffman à casa dos pais, terminado o liceu em A Primeira Noite. Mas, a cena (e, já agora, a música) adquire uma dimensão totalmente diferente quado sabemos mais tarde que o mesmo miúdo é surdo-mudo. E é nestes pequenos (e infelizmente) curtos momentos que o filme de Rose Bosch consegue surpreender.

Mas o filme passa de forma irrequieta, com um desenvolvimento de personagens muito a trouxe-mouxe e piadas que na sua maioria, não resultam. Em contrapartida, é interessante como a maioria dos filmes referidos pertencem ao final dos anos 60 / princípio dos 70 em Hollywood, o que serve para caraterizar a geração que Jean Reno representa na sua personagem: a de um homem de família, em tempos aventureiro e explorador, mas agora conservador e nostálgico. Os momentos mais doces recaem na amizade espontânea formada entre ele e o neto pequeno, entre os quais se incluem uma cena comovente, sem som (é suposto ser do ponto de vista da criança), onde a geração mais velha mostra à mais nova o seu olival estimado.

Vale então pelos desempenhos de avô e neto que, com poucas palavras, reconciliam duas gerações distintas de forma mais eficaz que os restantes oitenta minutos de discussões e conversas encaminhadas para um final antecipado, mas que é o que a audiência pede. Mais do que isso, como achar fraco um filme que dedica cinco minutos do seu tempo a cantar Bob Dylan?

O melhor: A banda sonora e a relação avô-neto, num dos melhores desempenhos de Jean Reno.
O pior: O ritmo açodado e o humor falhado.


Duarte Mata

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