Sexta-feira, 29 Março

«Laggies» (Encalhados) por Roni Nunes

Para abusar um pouco de comparações hiperbólicas pode-se dizer que este Encalhados é uma mistura de Boyhood com o Morangos com Açúcar. Por outras palavras, a ênfase no drama e nos diálogos e a recriação da típica atmosfera indie (cuja ausência de adereços cinematográficos aqui beiram o desleixo) mesclam-se com os parâmetros adocicados dos dramas telenovelescos.

O filme gira à volta de Megan (Keira Knigthley). A sua crise é visível: das loucuras dos tempos de finalista alguns anos passaram, as suas amigas tornaram-se responsáveis (ou simplesmente idiotas) e o seu namorado, remanescente daqueles tempos, tem uma carreira e, pior ainda, decide pedi-la em casamento. O problema é que este tipo de vínculo, assim como de trabalhar a sério, está longe das prioridades da rapariga. Por isso não espanta que a certa altura ela desenvolva uma relação de amizade com uma verdadeira teenager, Annika (Chloe Moretz).

Sem nunca exagerar muito no pessimismo e nos tons sombrios para caracterizar essa fase da vida de Megan, a realizadora Lynn Shelton consegue bons momentos em que o naturalismo do cinema alternativo casa bem com alguns bons diálogos e consegue dar à crise “pós-adolescente” da protagonista contornos credíveis e até alcançar alguma emoção. Por outro lado, o açucaramento televisivo de alguns momentos deixa antecipar um final incrivelmente previsível e que enterra com pá de cal qualquer pretensão de realismo e seriedade.

O melhor: bons momentos de drama e uma crise existencial credível
O pior: o final de telenovela que encerra qualquer possibilidade do filme ser levado realmente a sério


Roni Nunes

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