Quinta-feira, 25 Abril

«Still Alice» (O Meu Nome é Alice) por André Gonçalves

Alice ainda mora aqui”

Da lista das várias enfermidades que afetam o ser humano numa altura geralmente mais avançada do seu tempo de vida, o Alzheimer, a forma mais comum de demência, estará, na opinião deste espectador, no topo das mais aterradoras, acima até de um AVC/ataque cardíaco – que pelo menos é imediato, 99% das vezes.

Ainda sem cura, somos obrigados a ver folhas do nosso argumento rasgadas de uma forma aleatória, primeiro memórias de um verão passado, nomes de objetos, depois os nomes dos nossos próprios familiares, até nos depararmos com um completo buraco identitário.

Não admira que Alice Howland, uma professora universitária de linguística, considere um plano B a certo ponto deste O Meu Nome é Alice (bem melhor o título original a realçar precisamente o grande dilema identitário), quando as palavras que tanto abraçou e ensinou lhe começam a abandonar e a questionar o que resta…

Filme de uma violência psicológica mais brutal que muito filme de terror – sobretudo, obviamente, para quem possui familiares nesta situação, mas não só –Still Alice conta sim com uma performance digna de um Oscar e de todos os prémios de interpretação feminina da temporada a cargo de Julianne Moore, tão apaixonante como quando a vimos sofrer de uma enfermidade igualmente assustadora no também magnífico Safe. Mas não merece de todo ser reduzido a filme de uma só performance, ou pior, ter comparações a um telefilme do canal Lifetime (tomara que fossem todos assim!).

Em primeiro lugar, a performance de Julianne Moore não é a única a merecer elogios – Kirsten Stewart, vinda de um ano absolutamente transformador (com três performances a merecer artigos de profunda reavaliação no que toca ao seu estatuto de atriz de primeira linha), é excelente enquanto filha de Alice; ainda mais reativo, mas não menos bom é Alec Baldwin, enquanto marido.

Depois, a maneira sempre sóbria com que a dupla de argumentistas e realizadores Richard Glatzer e Wash Westmoreland conduz o espectador, pondo-nos ainda assim num pranto merece ser mais notada.

Independentemente das nossas histórias pessoais, este é um filme que não cairá tão cedo no esquecimento (perdoem-me o trocadilho fácil, mas é irresistível). A não perder – e não só porque temos aqui a mais que provável e justa vencedora do Oscar de Melhor Atriz…


André Gonçalves

Notícias