Sexta-feira, 19 Abril

«My Old Lady» (Uma Senhora Herança) por Duarte Mata

Apesar de começar como uma comédia ligeira, Uma Senhora Herança adquire lentamente uma faceta mais dramática, sem parecer forçado, excessivamente moralista ou pretensioso, neste pequeno retrato de um “vencido da vida” (Kevin Kline) que se auto-descobre após herdar do pai recentemente falecido, um apartamento parisiense ainda habitado por uma idosa secretamente vinculada ao seu passado (Maggie Smith).

O referido apartamento é a força impulsionadora de toda a ação e, embora algumas cenas decorram no seu exterior, o filme não deixa de se passar num huis clos infimamente ligado aos espaços temporais e familiares destas duas gerações que, improvavelmente, reconciliam um passado vicioso de que, direta ou indiretamente, ambas fizeram parte. A filiação e os pecados dos pais são os principais tópicos explorados e o cimento emocional e frágil destas personagens.

O elenco principal (Kline, Smith e Kristin Scott Thomas no papel da filha da idosa) está dirigido de uma forma matura e coerente, pelas mãos do dramaturgo Israel Horovitz (mais famoso pelo argumento do biopic para a televisão James Dean), aqui a marcar a sua estreia na realização.

Um filme de argumentista muito decente com a moral séria de que a morte não é solução para nada e que ultrapassa a todos os níveis as quatro paredes de um lar simbólico de uma infância humilhada e ofendida, mas ainda não perdida. Ou, se for preferível, salientamos os versos de Samuel Beckett (o ídolo de Horovitz) homenageados e, por sua vez, cruciantes para a narrativa desta película:

If you do not love me I shall not be loved
If I do not love you I shall not love

O melhor: Os desempenhos do trio principal e a dimensão das personagens que representam.
O pior: A mise-en-scène ainda por aprofundar de Horovitz que torna este trabalho num registo de filme de argumentista.


Duarte Mata

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