Sábado, 27 Abril

«Is the Man Who Is Tall Happy?» (É Feliz o Homem Que é Alto?) por Hugo Gomes

Antes de preparar A Espuma dos Dias, Michel Gondry aventurou-se no registo do documentário / entrevista. Uma conversa com o celebre linguista e ativista Noam Chomsky, que bem poderia ser acompanhado por um formato quase televisivo ou modelizado do documentário de testemunho. Parecendo em teoria um exercício académico, Gondry, habituado com a excentricidade visual, narra todo este “blá blá” com animações da sua autoria e de igual interpretação. Talvez seja por essa vertente que o realizador consegue trazer alguma frescura ao registo, mas essa singularidade visual não o converte em algo mais transcendente que um mero exercício de estilo.

Obviamente que esta conversa, difícil de ser acompanhada para quem não se encontra familiarizado com o tema, até mesmo Gondry tem duvidas em embarcar nesta filosofia coletiva, é extensa mas rica, por vezes divagando por temas sobre temas, esboçando a vida de Chomsky, os momentos que o marcaram e que o levaram a tornar-se no homem que é hoje lembrado pelas suas teorias sobre “n” assuntos. Se a sua conversa intelectual e sugestiva preenche sob um jeito cerebral as referidas e inundantes animações, É Feliz o Homem que é Alto? resulta mesmo assim num engodo por via do método de Tadoma, o qual é citado pelo próprio Chomsky como uma leitura de expressões e linguagens através do tato, formação especializada a deficientes audiovisuais. Quero com isto salientar que através deste disfarce técnico somos remetidos a uma cansativa demonstração de ego, mais do que explorar as convenções e perspetivas dadas pelo linguista.

Assim, ficamos com ideias de tópicos sobre a complexidade do cérebro humano, o que funciona mal no ensino educacional, o quanto uma criança pode aprender sobre línguas e até as propriedades psíquicas dos objetos. Temas esses, quase retidos a conversas de café, são muitas vezes interrompidos pelas dificuldades linguísticas na hora de fomentar questões por parte de Gondry. Vale pelo conceito e forma, porque inerentemente não ficamos satisfeitos.

O melhor – O visual adquirido pela criatividade de Gondry
O pior – o desaproveitamento do intelecto de Chomsky por via de uma relevante preocupação do foro visual


Hugo Gomes

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