Sexta-feira, 29 Março

«Dumb and Dumber To» (Doidos à Solta, de Novo) por Paulo Portugal

“De Novo”?, perguntarão muitos daqueles a quem este filme se destina. Isto porque dificilmente teriam idade (seriam vivos?) para testemunhar a paródia flatulenta do filme original. Foi há 20 anos, caramba! Por isso nos questionamos do propósito de fazer uma sequela que funciona como se o original tivesse a gestação habitual. Das duas uma, ou se viu Doidos à Solta em 1994 e se voltou a rever para refrescar a verve destravada dos manos Farrelly, ou não se viu e procurou-se colmatar a curiosidade antes de ver a sequela “De Novo”. Desde logo porque Peter e Bob Farrelly pegam (mais ou menos) onde deixaram o anterior. A tarefa é arriscada. Em todo o caso, não é que nos rimos com vontade em grande parte das alturas certas?

Já agora, aproveito para dizer que nem sequer sou grande fã do original Dumb & Dumber, com um Carrey a viver o pico da sua fama, embora não num dos seus melhores momentos. No entanto, ao rever a matéria dada de 1994 reconheço que os Farrelly conseguiram afinar o sentido de ‘non sense‘ pelo mesmo modelo.

Não que estejamos a falar de nenhuma obra prima da comédia de mau gosto, mas onde  antes havia alguma ingenuidade pueril em alguns gags –  estamos em plenos delirantes anos 90! -, vivemos essas piadas com um certo lastro de amadurecimento; depois, até os próprios Jim Carrey e Jeff Daniels dão bem conta do recado, no papel de idiotas veteranos.

Sim, já todos sabemos pelos trailers que circulam por aí que o pontapé de saída para este filme levou Lloyd (Carrey) a permanecer internado num asilo de alienados, segurando assim uma patranha durante 20 anos. Pelo meio, com o “McGuffin” de transportarem um embrulhinho durante o filme todo (no primeiro fora uma mala com dinheiro, lembram-se?). No entanto, não se percebe bem a razão pela qual a dupla de realizadores aposta demasiado na recuperação de gags e personagens do passado, solicitando um esforço de memória ou mesmo uma lacuna.

No entanto, vistos os dois “back-to-back”, percebe-se que existe uma vontade de colagem às mesmas piadas flatulentas e a um humor selvagem. O lado bom é que assumimos a intenção sem necessidade de ajuizar o peso de cada piada. Talvez porque se o fizéssemos confirmaríamos a maior frescura do mais recente.

É claro que a narrativa, tanto num caso como no outro, é de somenos importância. Dantes, a procura de uma mulher para devolver a tal mala recheada de dinheiro; agora, a mesma busca, mas para procurar a suposta filha de Harry e de uma moçoila, numa prestação corajosa e destemida de Kathleen Turner, mostrando que é uma mulher de peso.

Doidos à Solta, de Novo não será um grande filme, é certo. Mas cumpre com algum rigor o propósito para que foi criado – marcar a homenagem aos 20 anos do original. Se bem que com a pecha de exigir um exigente exercício de memória para um novo público que não teria ainda nascido. Seja como for, saúda-se a ousadia, mas também o rigor de uma fita que deve ser encarada como uma autêntica sessão dupla. Por isso, quem não viu agora, pode até esperar para uma mais do que provável edição dupla em DVD ou Blu-Ray com todos os extras.

O melhor: perceber como vinte anos depois foi possível recuperar o tipo humor que celebrou o filme original
O pior: a demasiada colagem ao original deixará alguns espetadores à deriva…


Paulo Portugal

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