Quinta-feira, 25 Abril

«Penguins of Madagascar» (Os Pinguins de Madagáscar) por Jorge Pereira

Nota prévia: A versão visualizada foi a original (em inglês) e em 3D. Em Portugal só vai chegar aos cinemas a versão dobrada em português (3D)

Depois de ter feito um spin-off da saga Shrek, com uma obra em torno do Gato das Botas, a Dreamworks traz até nós um filme onde os pinguins com tiques militares da franquia Madagáscar são o foco de todas as atenções e problemas.

Compreenda-se que estas personagens – que chegaram pela primeira vez ao cinema em 2005, e que entretanto “aterraram” também numa série de animação no canal Nickelodeon – sempre foram muito mais importantes em trazerem humor para a sua saga que o Gato das Botas em Shrek, por exemplo (O burro brilhava mais). Assim, a expetativa de os ver como protagonistas de uma obra só sua era consequentemente maior e pode-se dizer que o grupo cumpriu com os mínimos requeridos, ou seja, este é um filme certamente engraçado para as crianças, mas apenas levemente divertido para os adultos (que muitas vezes são arrastados para as salas pelos filhos).

Pinguins de Madagáscar começa por nos mostrar a origem geográfica e da amizade dos quatro amigos, dando-nos assim uma introdução para aquilo que se segue. Longe da comédia de animação com momentos musicais que Madagáscar sempre sempre se revelou, mas mantendo um espírito de aventura que atravessa várias cidades mundiais (como se de um filme de espiões se tratasse), nesta fita seguimos o plano maquiavélico de um polvo – a fazer lembrar um dos mais icónicos vilões do Homem Aranha – em transformar todos os pinguins em criaturas bem longe de serem consideradas adoráveis para os homens.

Pelo meio, e para ajudar os nossos cerebrais pinguins, surgirá também um grupo de especialistas repletos de tecnologia para combater o mal, onde encontramos um Urso Polar, que não resiste ao tom «fofo» dos pinguins, um lobo, uma foca harpa e uma Coruja-das-neves – que aqui se revela uma espécie de femme fatale por quem um dos pinguins, Kowalski, vai cair de amores. Ah! Há também um grilo, que não tem qualquer importância para a história, mas que cria um dos momentos mais Seth MacFarlane desta obra (a par de uma longa degustação de aperitivos a certa altura).

Embora se sinta que Os Pinguins de Madagáscar é muito mais orientado para as crianças do que para os adultos (como a maioria dos filmes de animação americanos são), existem ainda assim alguns gags que só os mais velhos entenderão. Pelo menos assim é na versão original, onde referências cinematográficas e até futebolísticas dificilmente seriam entendidas pelos mais novos (4-12 anos). Resta agora saber como se dará essa tradução para o português, uma tarefa nada fácil tendo em conta que muitas expressões e piadas apenas funcionam mantendo os termos da versão original. Mas uma coisa é certa. Vai-se perder alguma coisa na tradução…

No que toca ao enredo, não podemos escapar à questão das aparências, que serve de mote para a história e para as razões do nascimento do vilão. A cultura do belo e do “fofinho” é frequentemente visível na nossa sociedade, onde muitos até criticam, por exemplo, o abate e a utilização como alimento de certos animais esteticamente mais «queridos». Isto enquanto estamos à mesa a comer um bife de porco, vaca, perú ou frango. As mesmas aparências servem também como ilusão aqui para mostrar que não basta gadgets e muita tecnologia para cumprir as missões, mas também coragem. O mesmo se podia aplicar na relação desenho tradicional/desenho por computador. Seja qual for a técnica, a maior arte está na de contar uma história.

Aproveitando a dica, do ponto de vista visual, Pinguins de Madagáscar mantém a tradição recente da animação norte-americana, ou seja, belo na criação das imagens naturais (o Pólo Sul) e urbanas (Veneza, Xangai), engenhoso na execução de diversas sequências de ação, mas pouco inovador na narrativa e personagens, não funcionando igualmente o 3D como algo verdadeiramente essencial para se desfrutar deste filme (com exceção de talvez o início).

Uma nota final para as vozes (versão inglesa) que dão vida a esta obra. Por mais que gostemos da versão nacional, ouvir Werner Herzog, Benedict Cumberbatch e John Malkovich (o grande vilão) numa saga como esta é sempre uma mais valia.

O Melhor: As referências ligadas ao cinema. É certamente engraçado para as crianças e levemente divertido para os adultos
O Pior: Pouco arrojado e nada inovador, até visualmente. Não é um filme que verdadeiramente queiramos rever novamente.


Jorge Pereira

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