Sexta-feira, 26 Abril

«Get on Up» por Duarte Mata

Na última década, em filmes como Ray ou La Vie en Rose, o biopic musical tem recorrido na tendência de se propor a contar, em mais de duas horas de filme, a ascensão de uma celebridade bem conhecida do nome da música, partindo de uma infância problemática e terminando numa carreira que não se sabe até que ponto é idílica. Nesta tendência recai também Get On Up, sobre o cantor de R&B e criador do funk (“If it sound good and it feels good, then it’s musical“), James Brown.

E, de facto, muitos dos incidentes que marcaram o ídolo estão lá presentes: A fase Gospel, Os Famous Flames, o concerto no Apollo, a homenagem a Luther King em Boston Garden e os encontros com Little Richard ou os Rolling Stones (Mick Jagger é o produtor deste filme) são apenas alguns dos casos. No entanto, raras vezes são retratados o humanitarismo e a solidariedade que o cantor possuiu, sendo questionável até que ponto o que estamos a ver é de facto Brown e não um conto de orgulho e glória.

Tudo isto é exposto num dispositivo frágil, enervante e terrivelmente reciclado em filmes do género, denominado flashback (as cenas de infância do cantor são, francamente, as mais dispensáveis). No entanto, há momentos surpreendentes, como as sequências de dança bem coreografadas, onde a câmara é o principal parceiro de Chadwick Boseman, num performance “Oscar-type”. De notar ainda que o filme não tem problemas em quebrar a quarta parede, um tabu em Hollywood quase nunca assumido, principalmente em filmes fora da comédia.

Espere-se, portanto, um Touro Enraivecido mais prosaico e convencional, em que a arena é um palco desafiante à fraternidade (no filme de Scorsese, com o irmão de sangue, aqui o companheiro Bobby Byrd) e com uma violência que se percebe que vem há muito de trás (“James Brown don’t need no one” de Boseman a ecoar o “I don’t go down for nobody” de De Niro). E se esta comparação não é um elogio, então não saberemos o que seja.

O melhor: A ambição em fazer justiça a Brown, muito mais do que o homem responsável por êxitos como I Got You (I Feel Good) ou Get On Up (Like a Sex Machine).
O pior: A estrutura já excruciada do biopic em projetos semelhantes.


Duarte Mata

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