Sexta-feira, 26 Abril

«Samba» por Hugo Gomes

Mesmo tendo em conta o resultado, filmes como este Samba são necessários numa França que cada vez mais expõe ao resto do mundo a sua repugnância pelos imigrantes – ainda mais porque usa o humor como a melhor arma de crítica. Mas enquanto as intenções aqui são boas, o filme … bem, vou passar a explicar.

Realizado por Eric Toledano e Olivier Nakache, os mesmos cineastas por trás do êxito de Os Amigos Improváveis, Samba assenta como uma reprimenda ao sistema de avaliação e integração dos imigrantes ilegais em França e os conflitos sociais e políticos que a envolvem, mas fá-lo com um afinado humor ligeiro e dinâmica narrativa. Por outras palavras, a dupla recupera o tom do seu anterior sucesso. Até o protagonista, Omar Sy, é reciclado nesta suposta “epopeia” humana que clarifica desde cedo a ligeireza com que aborda temas sérios e de mediatismo público. Enquanto em Amigos Improváveis a abordagem cómico-dramática funciona sob um jeito equilibrado e requintado, aqui somos induzidos a um “quero ser um sucesso de bilheteira à força“.

A linguagem fílmica aqui usada é do mais mainstream e, para além disso, sob um cariz meio adolescente nas articulações das suas personagens (mesmo que Omar Sy se encontre imaculado e fortemente carismático na sua entrega). Um exemplo disso é a inserção algo forçada e demasiado fabulista de um romance que, por sua vez, é conduzido através de peripécias burlescas. Do outro lado deste caso amoroso encontramos uma Charlotte Gainsbourg a repetir de forma leviana o seu papel em Ninfomaníaca, de Lars Von Trier, ou diríamos antes, uma caricatura da mesma. Depois são os estereótipos raciais e étnicos, sabendo-se que o filme tenta de tudo para os evitar, ou pelo menos “disfarçar”.

Mas onde Samba falha mesmo é na sua “máscara” manipuladora, a persuasão de levar espectador a “abraçar” causas esquecidas pelo meio e pelo próprio filme – que prefere se concentrar em subenredos de comédia romântica em vez da temática que havia prometido. Demasiado indulgente na sua abordagem, a nova obra de Eric Toledano e Olivier Nakache é um “crowd pleaser” que utiliza o humor como arma de destruição. As miras é que estão mal apontadas.

O melhor – O humor é agradável e Omar Sy tem uma prestação bastante afável
O pior – Ser demasiado ligeiro e disperso na sua abordagem 


Hugo Gomes
(Crítica originalmente escrita em novembro de 2014)

 

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