Sexta-feira, 19 Abril

«St. Vincent» (Um Santo Vizinho) por Hugo Gomes

Não é a América profunda, nem a decadente da sociedade white trash, mas sim a intermédia, da geração desiludida que cresceu e que ainda reserva a sua frustração num país que insiste em ser politicamente correto, como se fosse uma estética para monstrar ao resto do Mundo. A representação dessa faixa etária, esse enfant terrible da sociedade norte americana, encontra-se em Bill Murray, que desempenha em St. Vincent (Um Santo Vizinho) um rebelde sem causa fora de prazo e misantropo.

Realizado e escrito por Theodore Melfi (a sua primeira longa-metragem), Um Santo Vizinho é um filme que se indicava lamechas, esperançoso, quase anexado a uma igreja qualquer e à sua cruzada pela evangelização e credibilização de Deus, mas é o ator Bill Murray que automaticamente o transforma num jeito mais paródico e caricatural à sociedade que muitas vezes se sobrepõe na razão. O politicamente correto é uma desculpa para conduzir o seu protagonista ao limbo eterno, à sua ilha humana remota do mundo que desesperadamente o quer integrar. Nesse aspeto, o ator de Lost in Translation converte-se num “must“, isto num filme que parecia desde o início fazer parte à extensa lista de moralidades cinematográficas. E é bem verdade que é a sua personagem que é capaz de transferir emoção, mesmo que aparentemente esta não se identifique. A sua prestação varia entre a tragédia, sempre com intensidade, até ao mal comportado “comic relief”. No fim disto tudo, será isto uma autobiografia?

Um Santo Vizinho é, como filme, estruturalmente um hibrido entre a produção independente e a narrativa mainstream da comédia dramática mais classicista, talvez ao jeito de Billy Wilder e da sua dupla Lemmon / Mathau. As prestações no geral são agradáveis (exceto Naomi Watts que abusa no estereotipo de imigrante do leste). Até mesmo a sobrevalorizada Melissa McCarthy consegue controlar o seu ego que a tornou popular. Já Bill Murray, é o “rei” da vizinhança, em conjunto com o pequeno mas convincente Jaeden Lieberher.

Um Santo Vizinho funciona como uma simples proposta sem pretensões. Divertido o quanto baste para servir de tributo a um dos atores mais irreverentes de Hollywood. É possível que a nomeação ao Óscar esteja mais perto deste do que se imagina. Pelo menos torcemos para isso.

O melhor – Bill Murray, evidentemente
O pior – Sente-se que Murray carrega o filme às costas!


Hugo Gomes

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