Quarta-feira, 24 Abril

«The Judge» (O Juiz) por Paulo Portugal

Espera, o que faz o realizador de Os Fura-Casamentos, Fred Claus – O Irmão do Pai Natal, Cuidado com o que Desejas, Shanghai Nights ou até mesmo Um Padrasto Para Esquecer (ups, não creditado!…) a assegurar as rédeas de um filme de tribunal que mistura dramas pessoais com culpa e honra? Poderemos até dizer em abono do bom nome de David Dobkin que será legítimo arrepiar caminho no trilho da comédia desbragada e tentar outras opções. E porque não numa audiência do tribunal? Trilho seguro e discreto quando se tem, não um, mas dois Roberts – Duvall e Downey Jr. A intenção não é a laracha, mas tão somente o sossego de atores de tal craveira para quem semelhante engodo jamais passaria de um agradável passeio.

E é isso que é O Juiz, um filmezinho simpático que nunca quer ser mais do que isso mesmo. As cartas jogam-se facilmente. Hank Palmer, o filho (Downey), é o advogado da moda, aquele que come os adversários mais coriáceos ao pequeno almoço, mesmo ali na barra. Joseph, o pai (Duvall), é o meritíssimo dos quatro costados, temível e temido numa pequena localidade do estado de Indiana. Entre ambos um oceano de separação a que a morte da mãe obriga a um encontro de família. Isto numa altura em que a família de Hank também desabava. Despedido pela mulher, procura segurar a atenção da filha. Pelo meio dois irmãos que, infelizmente para os seus atores (bravo Vincent D’Onofrio e Jeremy Strong, o Lee Harvey Oswald de Parkland), não terão qualquer base de sustentação na história. Tal como os outros secundários: temos uma Vera Farmiga a dar corpo ao romance antigo de Hank e com alguma hipótese de acenar um novo futuro a este homem desencontrado. E até mesmo Billy Bob Thornton como o taciturno advogado de acusação.

Isto porque O Juiz oscilará sempre entre este pai e este filho, o advogado e o juiz, mas também o magistrado que será réu numa acusação de homicídio no dia do enterro da mulher. Acabará por vir a ser defendido pelo filho, ainda que não sem alguns ajustes de contas familiares entre ambos. Já se vê que haverá espaço para ambos se agigantarem, ainda que o guião adaptado a partir da novela do próprio Dobkin não possua estrutura suficiente para justificar maiores golpes de asa.

Seja como for, Dobkin arranjou maneira de gerir as quase duas horas e meia de fita, ainda que asseguradas pela presença quase constante de um ou outro Robert. E mesmo a trama do tribunal nunca chega a ser suficientemente empolgante para juntar este aos memoráveis exemplos do género. Assim sendo, fica o seu autor, realizador e produtor com as culpas no cartório.

O melhor: Todos os momentos de confronto entre Duvall e Downey Jr.
O pior: A ideia de um filme vulgar escondido sob a capa de um bom filme.


Paulo Portugal

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