Quinta-feira, 18 Abril

«The Angriest Man in Brooklyn» (Aproveita a Vida Henry Altmann) por Miguel Pinto

É sempre delicado fazer uma apreciação de uma obra cujo protagonista faleceu há pouco tempo. Ainda se trata de um assunto bastante recente, uma perda trágica no campo do cinema. Mas irei-me abstrair de sensibilidades e formar uma opinião totalmente imparcial acerca do filme, não cedendo a quaisquer impulsos morais.

Sendo um dos últimos filmes deste ícone da comédia, é triste que não seja mais uma das razões pelo qual Robin Williams será lembrado. The Angriest Man in Brooklyn, inspirado no filme israelita de Assi Dayan, The 92 minutes of Mr. Baum, conta-nos a história de Henry Altmann, um homem que luta pela reconciliação com a família ao lhe ser dito que tem apenas 90 minutos de vida. A partir desta premissa seguimos o protagonista, uma personagem extremamente temperamental, a embarcar na jornada árdua de se redimir perante a família, quase em tempo real.

O filme assume uma postura intermédia entre comédia e drama, pretendendo ser light e passar uma mensagem em simultâneo. Quem melhor que Robin Williams para ser o rosto desse equilíbrio? Ainda que o ator seja feito à medida para o papel, são imensas as falhas que acabam por não fazer juz ao potencial máximo que o filme poderia atingir: a quantidade enorme de cenas previsíveis (a do taxista, por exemplo); a transformação demasiado brusca de certas personagens; a extrema caricaturização de outras; a voz off omnipresente, extremamente incómoda e usada como instrumento facilitador da narrativa.

A personagem de Robin Williams acaba por ser o filme: é fácil de odiar, pois à partida só conseguimos ver defeitos, mas cativa o espectador e coloca-nos a torcer por ele (em parte por mérito do ator, bastante apelativo). Ele um background interessante, que de certa maneira justifica as suas ações, ainda que se transforme demasiado drasticamente. As situações pelas quais esta personagem passa e os obstáculos que ultrapassa são algumas risíveis (como a sequência do vendedor gago) e outras dramáticas, mas acabam sempre por ter um caráter inverossímil, criado para manter o público interessado e combater uma certa previsibilidade ambulante no desenrolar do filme.

No fim, é um feel-good movie interessante (nem que seja pela premissa e pela mensagem), mas não explora toda a matéria-prima que poderia ser vantajosa para o resultado final. Robin Williams é definitivamente um dos pontos fortes, arrancando aqui uma boa interpretação que ofusca completamente Mila Kunis (personagem mal construída, na medida em que é completamete imoral e torna-se a voz da razão). A nível técnico, joga-se pelo seguro, aplicando as fórmulas básicas deste tipo de filmes, não arriscando em grande coisa. Vê-se bem, nem que seja por ser dos últimos registos do senhor Williams.

O melhor: O monólogo para a câmara de vídeo.
O pior: A voz off; o formato de caricatura que assume com medo que o filme seja levado a sério. 


Miguel Pinto

 

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