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«Annabelle» por Roni Nunes

De todas as diversas ramificações que o cinema de terror tomou a partir dos anos 60, nenhuma viria a ser tão prolífica em termos de grande público como aquela que acabou por ser consagrada em O Exorcista – até hoje o clássico absoluto do género.

O mais recente é este Annabelle, que vem reunir os mesmos elementos de Sinister – Entidade do Mal, The Possession – A Possuída, Insidious – Insidioso, Mamã e, mais diretamente, A Evocação, onde este foi buscar a sua personagem-título – só para citar os últimos sucessos. Isto quer dizer que por aqui andam forças sobrenaturais, satanismo, fantasmas, um totem amaldiçoado (aqui o próprio centro do filme), crianças ameaçadas e um padre…

A boa notícia é que, se o realizador John R. Leonetti, diretor fotografia dos dois Insidious e de A Evocação, não é nenhum James Wan, que sempre acrescenta um bocado de estilo aos seus projetos terroríficos, ele quase consegue a mesma façanha do realizador malaio – ou seja, contar com interesse e emoção histórias infinitamente vulgarizadas.

Para já o filme funciona bem ao situar o seu enredo num aspeto curioso dos anos 60 – a proliferação de seitas demoníacas do estilo Charles Manson. Mia (Annabelle Wallis, é a atriz, não a boneca…) é uma jovem casada com um recém-diplomado em Medicina que começa a enfrentar muitos problemas depois que lá na sua casa foi parar a boneca que aterrorizava a malta em A Evocação.

Como quase todos os filmes citados nos primeiros parágrafos, incluindo a obra-prima de William Friedkin, essa é uma história de mulheres e de maternidade – da força/luta delas para salvar a família. Os homens estão ausentes e, neste sentido, Annabelle funciona ao entrelaçar subtilmente a ardente necessidade de afirmação de uma frágil dona-de-casa sessentista (e que apresenta alguns traços da Mia Farrow de A Semente do Diabo, incluindo o nome) com os novos rumos que a condição da mulher iria tomar.

É certo que o filme abusa um bocado da paciência do espectador com algumas justificações absurdas (a forma como a boneca ficou amaldiçoada, por exemplo, é ridícula). Além disto, no último terço o que até então progredia de forma equilibrada dentro do quadro do cinema satânico/sobrenatural vai se tornando uma grande salganhada. O final, por sua vez, para além de pouco imaginativo, empurra a história dos personagens para um desfecho que não ficaria mal num martirológio cristão.

Mas, até lá, o drama funciona, há um bom uso de um dos truques mais eficazes do cinema recente, os vultos cadavéricos/fantasmagóricos popularizados por O Sexto Sentido e Ring – A Maldição (e a sua versão norte-americana) – para além de pelo menos um par de sequências arrepiantes – entre as quais uma bem longa numa cave onde a porta de um elevador que não anda abre sempre no mesmo lugar…


Roni Nunes