Sexta-feira, 29 Março

«November Man» (November Man – A Última Missão) por Hugo Gomes

 

Existe alguma razão para existirem filmes como este November Man? Num momento em que o conflito encontra-se à beira da erupção, será que existe a necessidade de reafirmar estatutos lendários em risco? Porquê Hollywood a continuar a persistir em antagonizar a Rússia nas suas produções que tem como fins atingir o mercado internacional? São estas as diversas questões que assaltam as nossas mentes após a visualização de algo tão inarrável como a nova “coisa” de Roger Donaldson, que para além de ser um objeto teoricamente obsoleto, é na prática uma afronta cinematográfica.

Pierce Brosnan veste a pele de um velho espião da CIA que durante a sua “vendetta” insere-se no centro de um conflito de interesses entre duas grandes potências mundiais ao mesmo tempo que inicia uma guerra pessoal com o antigo discípulo.

O ator parece desesperadamente em busca das antigas glórias como James Bond, papel do qual dificilmente conseguirá separar, assim como os EUA procuram as “vitórias” da Guerra Fria. Todo este conceito é acima de tudo uma fórmula poeirenta, envergada sem ritmo nem chama, que envolve-se em rebuscadas sequências de ação, personagens involuntariamente caricatas, assim como as interacções entre estas. Olga Kurylenko, por sua vez, após ter passado pelas mãos esotéricas de Terrence Malick em To the Wonder (A Essência do Amor), regressa agora em jeito catapultado à sua “origem”, uma mera sidekick amorosa de afinidades russas concretizada para somente deleite visual, pois é, a estética acima da essência.

November Man consegue ser um filme tão enfadonho que estreia no nosso país na mais errada das alturas: é que a silly season já terminou ao tempo. Visto isso, então o porquê de continuar a persistir em idiotices como esta? A Guerra Fria já lá vai, mas os americanos adoram relembrá-la e o resto do mundo consome alvoraçadamente essas memórias.

O melhor – Se tiver que escolher: Olga Kurylenko
O pior – Supostamente Hollywood faz filmes que abrangem um mercado internacional, então em não apostar em filmes para esse mesmo mercado ao invés de restaurar esse estatuto patriótico.


Hugo Gomes

Notícias