Quinta-feira, 28 Março

«Automata» por Hugo Gomes

Basta os créditos que surgem no inicio da fita para se perceber o quanto original é Automata, neste caso a ausência desse mesmo tributo. Num futuro próximo, a Humanidade entrará em colapso, a Terra transforma-se num local inóspito, um vasto deserto em consequência das drásticas mudanças climáticas. Para conseguir garantir a sua sobrevivência foram concebidos os automatas, robôs serviçais e funcionais para todo o tipo de tarefas. Os ditos automatas estão programados com dois protocolos, o primeiro que os impede de magoar um ser humano ou outro tipo de ser vivo e, o segundo, que os isenta de auto-reconstrução e modificação. Bem, não é preciso avançar mais para se perceber que esta distopia de ficção cientifica irá terminar numa revolta tecnológica, ao estilo de Isaac Asimov, sabendo que as três leis robóticas foram aqui plagiadas sem as menores das preocupações.

Tendo produção espanhola e búlgara, Automata é a enésima revisão do conflito tecnológico, e o filosofar dos limites da inteligência artificial. Tal como acontecera com Transcendence, esta nova evasão da ficção cientifica foi pensado para o grande público e por isso deixamos à partida grandes reflexões sobre os temas expostos e partimos para os elementos visuais e estruturais. Gabe Ibáñez constrói um filme com demasiadas peças obsoletas, emprestadas de outros modelos (é incontornável as comparações com Blade Runner e Mad Max), e o resultado é somente um autêntico desperdício monetário. Demasiado rebuscado, até mesmo no seu próprio jogo industrial, Automata ainda é enfraquecido por um protagonista (Antonio Banderas) demasiado preso ao seu ego, pouco interessado em interagir com a premissa a si incumbida, e personagens secundárias sem relevância, descartáveis como guardanapos.

Se procuram assistir um filme incorporado no trabalho técnico e gráfico, Automata é a obra certa, mais interessante o seu “making of” do que a ideia em si. Quanto aqueles que anseiam por debates da dependência tecnológica e o derradeiro confronto entre maquina e carne, este não é certamente esse tipo de filme. Demasiado vazio para ser levado a sério.

O melhor – o visual e os valores de produção
O pior – a falta de ideias e conceção destas


Hugo Gomes
(Crítica originalmente escrita em setembro de 2014)

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