Woody Allen é vítima de um horóscopo sistemático. Se num ano ele apresenta uma obra inspiradora, no outro diz o destino que ficamos à mercê de algo mais automático e menos rigoroso. É como se tudo se resumisse a uma dicotomia “à la Dr. Jekyll / Mr. Hyde“, mas aqui as facetas são outras, ora se surge um “Woody bom“, ora um “Woody menos … bom“, e assim sucessivamente. Admitindo esse mesmo signo, o que parece mentira, mas a verdade é que se já esperava um certo desapontamento neste “Magia ao Luar”, o regresso do cineasta de “Manhattan” e “Match Point” ao ilusionismo como vórtice de toda uma intriga de encantos e desencantos.

Stanley (Colin Firth), para além de possuir um alter-ego, Wei Ling Soo – o “incrível” mágico do Oriente, vive a sua vida desgostosa e arrogante em desmascarar charlatães que proclamam terem poderes psíquicos e contactos com o sobrenatural. Impiedoso nesta tarefa, em breve fica rendido a Sophie (Emma Stone), uma jovem vidente, que o próprio considera ser por fim, um caso genuíno.

Tendo como cenário principal a Riviera francesa dos anos 30, as belas encostas à beira-mar e os jardins luxuosos das igualmente mansões, elementos simbióticos com o próprio cinismo de Allen, que é quase uma tarefa impossível não pensar em outro “pano de fundo” para a história em questão. Tudo começa com os diálogos menos inspirados do autor, como se o mesmo não acreditasse no intelecto do espectador, sendo que imensas as rebuscadas e supérfluas frases que colocam-nos forçadamente no centro da ação como no passado das suas personagens de uma forma gratuita e demasiado novelesca. Depois surgem as próprias personagens, Colin Firth, talentoso ator sem dúvida, falha em mimetizar os tiques de Woody Allen, uma operação habitual na sua filmografia como realizador e argumentista, e Emma Stone não possui o brilho inerente para nos seduzir. Aliás, o efeito é absolutamente o contrário. Apenas Eileen Atkins constitui o mais interessante de todas as figuras secundárias, uma delícia sabiamente sarcástica, que nos faz “chorar” por mais.

Todos estes peões preenchem uma história onde são visíveis as marcas do autor, mas incutidos num formato automatizado, previsível e deveras “mesquinho“. O pior surge com o twist, que não surpreende sendo que o próprio espectador já esperava algo do género, mas que conduz o filme a uma pura hipocrisia romântica, sem qualquer respeito pelas suas personagens e público. Assim, Woody Allen fecha o círculo deste drama cómico que roça temáticas inteligentes mas convertidas em meras desculpas para mais do mesmo. Sim, evidentemente este é um “Woody menos … bom”. Uma ilusão!

Pontuação Geral
Hugo Gomes
magic-in-the-moonlight-magia-ao-luar-por-hugo-gomesUm Woody Allen automático em funcionamento de um argumento fingido.