Sexta-feira, 29 Março

«Sin City: A Dame to Kill For» (Sin City: Mulher Fatal) por Jorge Pereira

Nove anos depois de uma primeira incursão no cinema, Robert Rodriguez e Frank Miller regressam à cidade do pecado, não só para contar novas histórias em torno das suas personagens, mas também para encerrar alguns capítulos não fechados no primeiro filme.

O resultado final é misto, pois embora seja sempre um prazer voltar a este mundo e a estas personagens (em especial Marv e Dwight), não existe absolutamente nada de inovador por aqui, sendo este filme não só um constante déjà vu de ambientes e situações, como até tecnicamente uma reciclagem dos feitos do primeiro filme.

Compreenda-se que há 9 anos atrás dei a nota máxima ao primeiro filme, não só porque me atraía todo o ambiente pulp e noir que Miller incutia nas histórias e traço que serviriam de matéria prima para o filme, bem como – e cinematograficamente falando – estarmos perante puro cinema experimental com meios que o tornaram na mais fiel adaptação (ou tradução) de uma banda-desenhada ao grande ecrã. Na verdade, Sin City revelou ser híbrido perfeito, uma “jam session” cinematográfica onde duas artes (Cinema e BD) se fundiam e ainda havia espaço para uma teatralidade absorvente nas interpretações (em geral brilhantes) e um fantástico lirismo nas palavras.

Ora tudo o que era elogiável nesse primeiro filme serve para este segundo, embora em doses bem menores. As histórias – quer as adaptadas, quer as originais e criadas para este segundo filme – são menos envolventes, a técnica e imagética é semelhante, embora com algum exagero na aplicação da cor em certas situações, uma mais fraca e menos trabalhada coreografia das cenas de luta (em especial de Miho) e uma montagem absurdamente má em alguns momentos (Isto não é o Machete, Rodriguez!). Já o acting do elenco é seguro, mas muito menos consistente no global em relação ao primeiro filme. Talvez a culpa esteja na força/destaque das próprias personagens, ou da forma como mais ou menos foram negligenciadas por aqui. O mesmo se aplica ao tom poético decadente que nos envolvia na primeira obra, mas que aqui varia entre o brilhantismo habitual e o meramente banal e óbvio.

No todo, Sin City – Mulher Fatal sofre assim do estatuto inovador e exemplar do seu primeiro capítulo e de um claro desleixo dos seus condutores em alguns momentos desta segunda fita. Ainda assim, não me importava nada de ver a cidade do pecado e as suas histórias numa base semanal. Quem sabe se um dia Sin City não ganha uma vida  no pequeno ecrã, já que esta nova presença no cinema está longe do sucesso da primeira incursão.

O Melhor: O ambiente pulp e noir. A personagem de Marv os seus constantes one liners
O Pior: Tudo soa a reciclagem sem uma verdadeira motivação para existir


Jorge Pereira

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