A violência no cinema é cada vez mais questionada e nalguns casos suavizada, subjugada a uma restrição etária e social constantemente presente. Sabemos, sim, e reconhecemos que o Cinema é uma das grandes influências culturais dos dias de hoje, mas a delimitação desta entra em conflito com a psicologia reversa e, em consequência disso, o que supostamente seria uma “proteção” direcionada aos mais jovens, acaba por se tornar involuntariamente num incentivo aos mesmos. Passo a explicar: como se costuma popularmente citar “o fruto proibido é o mais apetecido“, ou seja, as graduais censuras quanto ao grau de violência apenas funcionarão como uma procura das mesmas por parte do ser humano. Essas necessidades a nível psicológico e fisiológico (a adrenalina tem tido como um papel crucial no desenvolvimento humano e a procura do conflito parece fazer parte da natureza humana) poderiam ser satisfeitas através da violência (atenção, não me refiro à glorificação da mesma) no cinema.

A satisfação seria obtida pela ficção como escape, o simulacro das fantasias inerentes. Porém esse mesmo júbilo não é aceite na sociedade atual. A visão da violência funde-se com o conceito de pornografia, a depravação e, com isso, o efeito “macaco de imitação”. Como por exemplo (e não querendo ser muito especifico nem eleger situações) um tiroteio numa escola, que parece ser rotina nos EUA, é mais vezes desculpada pela influência causada por filmes violentos do que pela facilidade com que se pode adquirir uma arma nos diferentes estados daquele país. A solução é “censurá-los” por termos mais aceites, classificar os filmes, condiciona-los às diferentes faixas etárias. Contudo isso só suscitará uma maior curiosidade por parte dos excluídos em relação às obras que, pela teoria, não são recomendados às mesmas. Poderão não ver pelos meios legais, mas terão acesso a elas de alguma maneira.

Mas sente-se, em consequência do aumento da delinquência juvenil e da violência que cada vez mais cometem, que a sociedade atual parece reger-se por tais classificações, o senso comum torna-se num sistema de moralidades fabricadas.

Por isso, o seguir o apelidado PG-13 (aconselhados para maiores de 13) é visto como um forma de aceitação pelas mesmas, e mais, como uma viabilidade de comércio. Por exemplo, filmes de ação com o “aplicativo” de maiores de 16 não possuirão a mesma acessibilidade em cartaz que um maior de 13. A abrangência de vastas faixas etárias obviamente leva a uma maior abrangência de público e por isso uma rentabilidade comercial eventualmente melhor. Essa decisão de “baixar a classificação” foi uma estratégia algo cobarde por parte de Os Mercenários 3, o terceiro filme de uma saga que segundo Stallone serviria como coletânea de alguns momentos de glórias de vários action heros dos anos 70, 80 e 90.

Silvester Stallone é puro “old school”, integrando inúmeras obras de imensa violência gráfica que o tornaram na notória estrela do cinema de ação que hoje é. Sabendo que o propósito de “Os Mercenários 3” era de um tributo desses tempos irreversíveis, minimizar a violência jubilante pelo qual eram característicos é visto como uma hipocrisia industrial. É verdade que uma saga em que no filme inicial assistíamos a um pirata somalis a ser desmantelado “a tiro” logo nos primeiros minutos, uma ausência de qualquer pingo de sangue nesta nova versão é considerado para os mais puristas numa ofensa às memórias de infância de muitos. E nesse aspeto, “Os Mercenários 3” perde o seu maior trunfo, a nostalgia.

O resto resulta em mais uma reunião de veteranos de guerra (desta vez sai Bruce Willis e Van Damme e entram Wesley Snipes, Harrison Ford, Banderas e Mel Gibson) acompanhados pelos seus respetivos “filhos” (Kellan Lutz). Nesta reunião, os “dignos de museu” juntam-se à nova geração de action heros (se assim for, estamos mal servidos no futuro) decidem “brincar” aos Rambos com bisnagas. Pois bem, este é um entretenimento ridículo que não sabe trabalhar a sua vertente de paródia como habilmente Stallone havia feitos nos dois anteriores. Pelo contrário, somos sujeitos a um auto-plágio narrativo, onde ninguém parece querer saber de nada. A química entre o grupo desvaneceu e, com isso, o ritmo, a interatividade com o espectador e as surpresas dignas do legado dos extintos videoclubes de bairro.

O resultado é mais do mesmo, nos conformes da Hollywood atual, direcionando o seu cinema à camada mais jovem e às maiorias que lhe auferem a rentabilidade necessária. É o cinema de ação a ganhar exagerada sensibilidade, com medo de arriscar e pior, com receio de ferir suscetibilidades. Traduzido por miúdos, isto é um mal elaborado “filme de putos”.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
the-expendables-3-os-mercenarios-3-por-hugo-gomesO melhor - O legado: dois filmes que apesar não terem sido perfeitos, foram nostálgicos e divertidos dentro dos seus limites. / O pior - A mesma fórmula de sempre com um aditivo: violência censurada para os mais sensíveis e para o êxito em bilheteira.