Quinta-feira, 28 Março

«Omar» por João Miranda

Em Omar, o último filme de Hany Abu-Assad, realizador palestiniano que já antes nos tinha oferecido O Paraíso, Agora!, seguimos a história de Omar, um jovem combatente que é preso na sequência da morte de um soldado israelita. A situação política da Palestina não é simples e a sua resolução parece, por vezes, não ser de todo possível. A situação de Omar e dos seus amigos é igual. Num sistema de repressão em que só a violência parece ser a resposta viável, a paranóia é fomentada de modo a que a desconfiança se estabelece não só em relação aos opressores, mas também entre amigos. A vida de Omar, tal como a da cidade à sua volta, está em ruínas e entrecortada de obstáculos que se erguem como os muros erigidos pelos israelitas. Sem nunca cair em facilitismos ou simplificar a narrativa, “Omar” é um filme que nos mantém presos e sempre na insegurança do que vai acontecer a seguir ou de como tudo irá acabar.

Se o elemento mais forte do filme é a sua narrativa, a realização do mesmo é marcante pela forma como, apesar de cuidada, não se tenta sobrepor à primeira. A forma como a luz é explorada nas cenas da prisão ajuda a construir um clima de violência e de claustrofobia, com o contraste entre o claro e escuro a reduzir a profundidade do campo e reduzindo a imagem às pessoas e à violência das interrogações e da cela solitária. A fotografia é enganadoramente simples, com estruturações visuais e segundos-planos que reforçam as relações entre as personagens, com escadas a separar personagens ou túneis a aproximá-los. As representações principais ajudam a completar as personagens e, no caso de Adam Bakri, o desconhecido que faz do titular Omar, sustentam o filme fornecendo-lhe uma flexibilidade emocional.

Com tanta complexidade e tantas resoluções ignoradas, o conflito Israelo-Palestiniano é o melhor argumento para a restruturação do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Na confusão mediática das notícias apresentadas e da História que, apesar de documentada, é esquecida ou ignorada pelas gerações mais novas, Omar é um filme pertinente, quer pelo retrato de uma situação geo-política complexa, quer pela exploração moral da resistência e dos seus perigos. Para além de uma lição potencial sobre esta situação, Omar serve também como um bom filme de acção /thriller, capaz de agradar até ao espectador de blockbusters americanos.

O Melhor: A narrativa e a recusa em simplificar uma situação complexa.
O Pior: A distribuição limitada que irá ter.


João Miranda

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