Sexta-feira, 29 Março

«Third Person» (Na Terceira Pessoa) por Hugo Gomes

A história de um escritor que respira emocionalmente através das suas personagens criadas subliminarmente tem muito de intimo com o realizador, produtor e argumentista Paul Haggis, talvez um dos mais conceituados do seu ramo em Hollywood nos dias de hoje.

Infelizmente, e apesar de intimista, Na Terceira Pessoa é um filme ditado por um certo vazio no ramo da emoção. O autor, após ter dado o seu melhor com No Vale de Elah (2007), tem caído de forma vertiginosa nas suas produções, mesmo que esta sua nova obra (apresentada em Tribeca) não seja de todo comparável com o “banalíssimo” 72 Horas (2010). Porém, o filme ostenta dramas corridos sob uma narrativa cansada e um emaranhar de intrigas com a finalidade de encontrar um propósito final, um elo inquebrável. Mas estamos longe disso.

Reconhece-se que Terceira Pessoa é frágil como um todo narrativo e ainda mais descriminado na sua ênfase dramática, mas não é todos os dias que vemos este tipo de entusiasmo em somente contar uma história e Paul Haggis não esconde tais emoções, mesmo que não decrete os outros tão desejados sentimentos. Este é um filme que rege por um código genético do autor, as memórias e pensamentos destes traduzidas num enredo cinematográfico, embora abrangidas por uma linguagem mais própria da televisão do que de cinema. Quanto ao elenco, a equipa trabalha meramente bem com Mila Kunis a destacar-se e Adrien Brody a revelar-se apto para o que der e vier. Qanto a Liam Neeson, como é bom ver o ator a desempenhar outro tipo de papéis sem que seja a espancar alguém.

Ou seja, Na Terceira Pessoa é uma obra tecnicamente competente, desequilibrada a nível de argumento, mas esforçada, pessoal e com interpretações favoráveis. Não é uma obra-mestra, nem do melhor que Paul Haggis já nos ofereceu, mas é o primeiro passo para uma eventual reconciliação do autor com o cinema. Nem que seja para provar que existe intimidade nas personagens que criamos.

O melhor – o lado intimo do filme
O pior – A intimidade não é sinonimo de qualidade superlativa


Hugo Gomes

Notícias