Sexta-feira, 29 Março

«22 Jump Street» (Agentes Universitários) por Hugo Gomes

No preciso momento em que Capitão Dickson, a personagem interpretada por Ice Cube, entrega a nova missão aos seus agentes “prediletos”, Schmidt (Jonah Hill) e Jenko (Channing Tatum), adverte que falhas são inadmissíveis, visto que o novo caso tem muito de idêntico com o anterior. Contudo, é sob esse signo de repetição que Agentes Universitários percorre os lugares-comuns deixados pela prequela (sendo novamente a trip como um dos momentos altos e hilariantes da narrativa), vagueando pelo visto e revisto até por fim dar de caras com uma leve frescura que reencaminha a comédia para fronteiras mais astutas do que a maioria das produções do género.

Phil Lord e Christopher Miller (a dupla por detrás do êxito de The Lego Movie) regressam assim numa sequela mais musculada e confiante, que restaura o espírito do sucesso de 2011, que por sua vez foi a adaptação de um popular série televisiva do final dos anos 80 com Johnny Depp no principal papel. Tal como a prequela, Agentes Universitários dita um humor alternado entre a sátira inteligente e corrosiva (tendo os estereótipos e artifícios liceais como principal alvo) com gags dinâmicos e por vezes desmiolados, tudo isto servido por uma química prestável pelos dois protagonistas. Channing Tatum confirma mais uma vez que tem “queda” para a comédia e Ice Cube funciona sob um jeito caricatura. Aliás, não é só o elenco que funciona como caricatura, toda a estrutura narrativa jornadeia habilmente para isso.

Para comprovar tal facto basta assistir aos créditos finais com aguçada crítica à situação atual da indústria cinematográfica (com Seth Rogen como um dos alvos a abater) e uma sequência, que segundo a nossa impressão cinéfila, assenta numa especial atenção a Spring Breakers, o infame filme de Harmony Korine que se tem revelado um culto pecaminoso. A dupla Phil Lord e Christopher Miller esmeraram-se nos mínimos e eis assim uma comédia ocasionalmente inteligente, divertida e dinâmica, talvez o melhor exemplar norte-americano do género deste ano.

O melhor – A dupla Tatum / Hill, Ice Cube e os gags eficazes
O pior – esperemos que a brincadeira final não se torne numa realidade.


Hugo Gomes

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