Sexta-feira, 19 Abril

«Transformers: Age of Extinction» (Transformers: Era da Extinção) por Hugo Gomes

Depois de três filmes intensos que bem serviam de case study à cada vez mais iminente junção entre o cinema com os parâmetros do videojogo, Michael Bay parece ter por fim concertado muitas das fragilidades que a saga possuía e que ficou “celebre” por tê-las, convertendo este novo projeto no mais acessível deste franchising cinematográfico baseado na homónima linha de brinquedos da Hasbro (sem com isto querer dizer muito). Porém, e sem as ambições para ser algo mais, continuamos com o mesmo espectáculo de feira, até porque os níveis de ridículo continuam em altas em Transformers.

Mas voltando aos pontos positivos. Sendo este o maior dos filmes do território imposto por Bay, e não refiro apenas à longevidade da sua duração (pouco menos de 3 horas), Age of Extinction revela-nos um realizador mais maduro e controlado (pelo menos onde o deve ser), tentando construir desde a raiz um novo leque de personagens humanas e com tal preenche-los com os mais “variados” conflitos pessoais, ou seja, os mesmos problemas de sempre. Shia LaBeouf é deixado para trás e Mark Walhberg é o novo detentor do spotlight de protagonista, com todas as características do “bom americano”; inspirador, corajoso e paternal. Como estamos num filme de Michael Bay não é necessário muito em termos interpretativos, basta sim sermos nós próprios. Sob o signo desse mesmo “décimo primeiro mandamento”, os atores (as novas aquisições) não são mais do que meros pavonear de egos, com Stanley Tucci a ser devidamente carismático e a atriz Nicola Peltz, da série Bates Motel, sob pouco esforço, a demonstrar que é melhor dos que as antecessoras: Megan Fox e Rosie Huntington-Whiteley.

Mas obviamente é tudo dispensável, porque a direção do espectáculo estás nos seus tremendos CGI e nas criaturas robóticas que vendem milhões e milhões de brinquedos. Aliás, nesse aspeto, Age of Extinction é um aguçado produto de marketing de todo o género, não só no próprio merchandising como também no resto dos “patrocinadores”. Depois, existe ainda aquela aposta no mercado asiatico, se não qual era a finalidade de metade do enredo decorrer em Hong Kong? Michael Bay afina as suas “armas” e propõe-nos um “show” pirotécnico e visual invejável, até mesmo em comparação com os seus trabalhos anteriores, e sob esse regulamento de entretenimento de silly season, o realizador deposita a sua marca autoral (aquele “planozinho” em movimento lento com o abanar da bandeira norte-americana não poderia faltar). Portanto, não ousem em procurar neste registo puramente digital algo mais profundo e intimista. Nada disso. Quem espera por um filme a lá Bay então esta é a obra ideal, mas até nisso o nosso realizador consegue aperfeiçoar o seu espectáculo, devolvendo à saga um vilão desafiante (por fim!) e sequências de ação perceptíveis mas igualmente gloriosas, mais trabalhadas para IMAX.

Finalmente, vale a pena salientar a autocrítica que Bay incute logo no início do filme, quando um proprietário de um antigo cinema desabafa ao nosso herói Wahlberg sobre o estado dos filmes de hoje, clamando que estes são reduzidos a sequelas e remakes. Ora bem, sendo Age of Extinction uma sequela e Michael Bay ligado à produtora Platinum Dunes, especializada em remakes sofisticados dos muitos clássicos do cinema de terror, se tudo isto passa de uma autêntica ironia, então Bay é uma farsa. Se não for, então nada disto sequer existiu?

O melhor – Os efeitos visuais e a banda sonora
O pior – cerca de 3 horas de duração!

 
Hugo Gomes

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