Só alguém tão irreverente como Albert Serra podia trazer ao Cinema um filme com Casanova e Drácula em simultâneo. Ele, que já havia adaptado personagens literárias ao grande ecrã anteriormente, tem dado que falar com o seu novo filme, Història de la meva mort, já vencedor de prémios, como em Locarno.

É sempre delicado falar de um filme cujo realizador é alvo de constantes polémicas. Certo também seria de que se não o fosse, os seus filmes também não seriam assim. Serra é extremista em vários aspetos cinematográficos, entre eles o chamar aos atores de idiotas (Albert Serra recorre a não-actores), o constante improviso em diálogos (ou monólogos) presentes no filme, etc… O próprio já admitira que encarava a narrativa como um fardo e obstáculo à diversão de que é construir um filme. Talvez tenha ido demasiado longe, visto que a estrutura narrativa é talvez dos pontos mais fracos do filme.

Adiante, o realizador, alvo de inúmeras influências notórias, como Bresson (a nível de escolha e direção de atores), Kubrick (neste filme, nas cenas noturnas iluminadas por velas) e influências por parte do expressionismo alemão (também neste filme, a partir da 2ª metade), tenta arrancar aqui uma obra única. Consegue, de um certo ponto de vista, apenas por ir buscar tantas e tão diversas referências/influências que acaba por criar de facto um filme singular e curioso.

No 1º acto, é interessante o modo com que Serra filma a época. Opta por um realismo não tão elegante como a grande maioria dos filmes históricos. O cenário não brilha ou é excessivamente colorido; os trajes não são elegantes;  a luminosidade não é majestosa. É tudo real, bastante real. É a época retratada sem embelezamento. É monótono, não encanta os olhos, mas arrasta-nos para um universo mais credível. Até a hipersonoridade da natureza nos ajuda para isso. A primeira metade funciona como um interessante estudo de época e de relações (a nível de diálogos e interacção entre as personagens funciona bastante bem), mas peca por não ter conteúdo suficiente, caindo no exagero quando nos mostra o protagonista sempre a comer, a rir e até a fazer as necessidades (desnecessário).

Na 2ª metade, o filme ganha uma intensidade algo bizarra. As fragilidades do ritmo narrativo sentem-se e os tons do filme alteram-se por completo. Torna-se mais sombrio, o que é justificável,  com a entrada da personagem do Drácula. Sente-se também por esta altura que o filme se arrasta sem necessidade para tal.

No final temos um filme complicado. São demasiados ingredientes numa obra que aparenta querer ser simples. Há demasiada informação e conteúdo interessante, que devia ser explorado, e não escondido, num filme que tem muito poucas falas, em que todos os planos são longos e com a omnipresença da Natureza. Parece que fica algo por mostrar. No fim não se percebe o que o filme quer ser.

(Texto escrito por Miguel Pinto)

Pontuação Geral
Miguel Pinto
Jorge Pereira
historia-de-la-meva-mort-historia-da-minha-morte-por-miguel-pintoSó alguém tão irreverente como Albert Serra podia trazer ao Cinema um filme com Casanova e Drácula em simultâneo. Ele, que já havia adaptado personagens literárias ao grande ecrã anteriormente, tem dado que falar com o seu novo filme, Història de la meva mort,...