É uma pequena caminhada, mas muito complicada. É mais ou menos nestes termos que Bruce Springsteen explica os dois passos do estrelato, vencedor deste ano na categoria de Melhor Documentário. Neste filme do realizador Morgan Neville, as verdadeiras vedetas são as vozes escondidas da fama, as vozes de apoio aos cantores.
Durante pouco mais de hora e meia acompanhamos na primeira pessoa um grupo de cantoras praticamente desconhecidas que partilham as suas memórias, historias e, claro, alguns dramas e dissabores da indústria. Talvez nomes como Darlene Love, Merry Clayton, Claudia Lennear, Gloria Jones, Lisa Fischer, Táta Vega, The Waters Family, Edna Wright e Judith Hill nos digam pouco, mas a verdade é que as suas vozes marcaram e continuam a marcar grandes sucessos da música.
Mas embora na generalidade as histórias não terminem com o ambicionado sucesso, nada disto faz o filme cair no dramatismo. Tal como as vozes vibrantes das suas protagonistas, A dois passos do estrelato consegue manter o interesse suportado pelas vozes de primeira categoria. O mais estranho nas histórias que vamos acompanhando é não percebermos porque não conseguiram estas vozes poderosas vingar a solo. Seja por falta de sorte, de oportunidade, ou até por algumas trapaças do mundo do espetáculo. Entre as estrelas mais reconhecíveis aparecem ainda Bruce Springsteen, Stevie Wonder, David Bowie, Mick Jagger, Sting, entre outros, contando eles próprios alguns episódios relativos às vozes de apoio.
“A dois passos do estrelato” é na verdade um documentário musical de qualidade com números musicais memoráveis e brilhantes e que não cai na tentação de perder o foco das suas heroínas. Embora acompanhemos diversas histórias em simultâneo, o que acaba por dispersar a atenção e sobretudo a emoção do espeptador, a verdade é que algumas das histórias são tão tocantes, que acabam por criar empatia automática. Há momentos mais mornos, mas que não fazem o filme perder a embalagem.
Assim sendo, A dois passos do estrelato é uma justa e emocionante homenagem a mulheres que gravaram algumas das melhores gravações musicais de sempre, atuaram perante milhões de fãs, mas que continuam a fazer as suas vidas quase anónimas
O melhor: A homenagem merecida a estas grandes vozes.
O pior: Nem todas as histórias tem igual dose de interesse.
Carla Calheiros
