Terça-feira, 23 Abril

«Tarzan» por Hugo Gomes

Já tivemos uma Branca de Neve guerreira sob a pele de Kristen Stewart, um Capuchinho Vermelho no centro de um singular triângulo amoroso, uma variação moderna de A Bela e o Monstro que é não mais do que um mero romance adolescente direccionado para o público de Gossip Girl e agora um Tarzan na demanda de material alienígena. Sob este cenário de crescente onda das reinvenções a contos de fadas e a outros clássicos de literatura, os mais conservadores têm motivos que cheguem para se preocupar.

São filmes como este que as novas gerações, com cada vez menos hábitos de leitura, têm acesso, o que pode evidenciar num futuro próximo uma vertente de ignorância cultural quer literária, cinematográfica e até mesmo histórica (um pouco como o museu distorcido do filme-paródia de Mike Judge, Idiocracy). É triste ver a criação mundialmente conhecida de Edgar Rice Burroughs ser sujeita a um tratamento tão distorcido como este, não apenas a situação temporal desta nova versão mas o rumo que a história segue, atropelada pelas liberdades artísticas que servem pouco de desculpa para a fraca aptidão de Reinhard Klooss (realizador e um dos responsáveis pelo argumento) para recontar uma história repetida vezes sem conta.

É por isso que este Tarzan chega a ofender a memória do original. Em suma, estamos perante umm conjunto de gráficos esplêndidos e bem trabalhados (tendo em conta que é uma produção alemã e não de um grande estúdio norte-americano) em prol de um argumento incoerente de teor derrotista face à sua entrega e preenchida por personagens vazias e meramente caricaturais. É preferível rever a versão da Disney em 1999, mais realista, mais emocionante. E apesar de terem já passado cerca de 13 anos, continua a ser visualmente deslumbrante. Queriam modernidade, mas não sabem como dá-la.

O Melhor – os gráficos
O Pior – a história e a sua entrega. O já irritante hábito de modernizar histórias do passado.


Hugo Gomes

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