Quarta-feira, 8 Maio

«J.A.C.E.» por Jorge Pereira

Elefantes, traficante de orgãos, prostituição, abusos (fisicos, mentais), travestis, drogas, a condição dos emigrantes, corrupção e até amores proibidos. São estas as linhas por onde se cose J.A.C.E, um filme de Menelaos Karamaghiolis, cineasta que apesar de boas intenções visuais (há aqui tiques que fazem lembrar o inicio de carreira de Nicolas Winding Refn) é traído por um guião sobrelotado de lugares comuns, simbolismos [o próprio título é indicador disso], personagens estereotipadas e um protagonista com carisma limitado.

Jace sobrevive nos braços da mãe, assassinada pelo próprio irmão. Agora órfão, este albanês grego vê sua família massacrada por traficantes que a partir desse momento o vão acompanhar em todos os momentos da vida. Se pensam que enchi essa espécie de sinopse com spoilers, convém dizer que alguns dos elementos acima descritos são apressadamente expostos nos primeiros 10 minutos. Na verdade, o filme começa logo mal, com um par de situações que fazem lembrar algumas realizações para TV e representações a caírem na teatralidade do melodrama barato. Aos poucos, e à medida que o cineasta dá mais tempo ao espectador para que sofra e entre na personagem, que coincide com os tempos mais recentes, as coisas encarrilam, mas nunca por muito tempo, pois Karamaghiolis tem uma agenda temática tão extensa que acaba por querer falar de tudo e não trata nada como deve ser, falhando essencialmente na forma thriller que aplica, pois este é sempre banal, por vezes até exploratório e onde até o grande vilão parece saído de uma aventura de James Bond, já que está numa cadeira de rodas a controlar o mundo do crime a partir de um portátil, sempre com grandes planos ao seu tenebroso anel.

Pelo meio ainda surge Diogo Infante no papel de um estilista cocainómano que também está do lado dos «maus», figuras unidimensionais sem escrúpulos e trabalhadas como todas as outras, ou seja, dentro dos chavões comuns do bicho papão que estamos habituados a ver em obras de ação desmiolada (basta lembrar Taken-Busca Implacável).

E apesar do filme até poder servir como uma esforçada aula didática para os perigos do mundo, especialmente para jovens, tudo acaba por soar demasiado forçado, parecendo mais vezes que estamos numa telenovela ou série televisiva que num filme onde se estuda realmente uma personagem massacrada pela vida e por todos os crápulas quem circulam em seu torno. A reviravolta final ainda dá um fôlego e frescura à obra, mas por essa altura já estávamos cansados de tanto cliché e lugar comum.

O Melhor:Visualmente e uma obra com alguns momentos de valor
O Pior: Uma visão forçada a estereotipos e personagens unidimensionais


Jorge Pereira

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